Enviada em: 16/09/2017

Os tempos são de liquidez, é o que prega o pensamento, muito disseminado, do sociólogo Bauman. O descarte nunca pareceu tão simples. Não serve mais, joga fora. Todavia, não se pode colocar tudo em um mesmo pacote. Quando o assunto são órgãos, a situação não é tão simples. O ato, já rotineiro, de jogar fora pode ser substituído pelo significante gesto de salvar uma vida. Entretanto, para que a escolha seja feita é preciso informação, isto é, é necessário que se conheçam as opções. Tendo isso em vista, já é claro que falta visualização. Em um cenário repleto de anúncios repetitivos, a doação de órgãos parece não ter espaço o suficiente para aparecer. A metáfora de Camões para o amor, ganha um novo contexto. "É ferida que dói e não se sente", diz o poeta. E assim pode ser definido o problema. As filas para transplantes são enormes, e agonizam de dor, clamando por atenção. Contudo, boa parte da população não tem sentido a dor alheia.  Além disso, existe um empasse: o tráfico de órgãos. Por baixo dos panos, no mundo todo, vende-se  órgãos como quem troca uma roupa usada por uma quantia em dinheiro. O tecido da vez não é malha ou algodão, é epitelial, e vale milhares de dólares. E apesar de soar assustadora, essa opção vem atraindo o interesse de muitas pessoas, que estão exaustas de esperar na fila uma vez que nunca chega, e, consequentemente, envolvendo muito capital ilegal. Essa rede de compras e vendas engloba, de um lado, interesses financeiros e, do outro, o desespero por salvar uma vida.  Sendo assim, é preciso que a Receita Federal forneça renda suficiente para que haja a possibilidade de uma forte fiscalização dessa rede de tráfico, punindo e multando severamente esse tipo de comércio clandestino. Além disso, são necessárias campanhas, governamentais e não governamentais, vinculadas nos mais diversos meios, a fim de conscientizar e unir a população em prol da empatia e da vida.