Enviada em: 31/10/2018

Na Ásia oriental, o avanço da idade é considerado um acúmulo de experiências e os sulcos na pele representam a sabedoria daqueles que viveram e apreenderam mais conhecimentos. Analogamene, no Brasil as pessoas mais velhas são tratadas como "árvores secas", que já não frutificam, mas ainda estão presas à terra. Nesse sentido, é contrastante como o envelhecimento da população brasileira aliado ao hábito de menosprezar a velhice tem contribuído com um cenário que tolhe os direitos da terceira idade.   É relevante abordar, primeiramente, que a transição demográfica em ocorrência configura um novo cenário que traz desafios nacionais. Isso decorre porque a logística do país não foi pensada para pessoas com mais de 65 anos, visto que na nossa história, essa parcela populacional sempre foi pequena. Todavia, com o avanço das técnicas biomédicas, a expectativa de vida aumentou mais de 30 anos desde a década de 1940 (segundo relatório de 2016 do IBGE), de modo a divergir com a configuração socioespacial do Brasil. Nesse sentido, aqueles que alcançam a velhice se deparam com uma sociedade que não está adaptada às suas necessidades, como falta de acesso a serviços básicos, transporte e segurança. Consequentemente, a velhice torna-se um paradoxo de longevidade e baixa qualidade de vida.    Concomitante a isso, a cultura brasileira concebe o avanço da idade como uma manifestação da decadência humana. Nesse sentido, o corpo social entende o cidadão idoso como óbice e o rechaça socialmente. Tal fato pode ser compreendido levando em consideração os pilares socioeconômicos que ordenam nosso Estado. Com o advento da Revolução Industrial no século XVIII, o ser humano saiu da posição de sujeito vivente para produtor, de modo a instaurar a premissa moderna de que viver é produzir incessantemente. Em decorrência disso, quando a coletividade julga a senioridade, o faz de maneira economista e preconceituosa, visto que enxerga apenas improdutividade, sem considerar os anos trabalhados e o direito ao descanso com dignidade e respeito.    Fica claro, dessa forma, que as dificuldades sofridas pelos mais velhos advém da falta de integração e reconhecimento na sociedade. Portanto, cabe ao Ministério Público, em parceria com ONGs, construir uma pátria cidadã que valorize a população idosa, por intermédio de duas medidas centrais. Primeira, o aumento da fiscalização no cumprimento das leis previstas no Estatuto do Idoso pelo Ministério Público, bem como, a criação de programas que visem à inserção dos longevos em atividades, remuneradas ou não, que instiguem seu reconhecimento, como esporte, lazer, artesanato e contação de histórias. Espera-se, com isso, minorar os desafios encontrados à garantia dos direitos da terceira idade.