Enviada em: 11/06/2019

No poema ''Como se morre de velhice'', de Cecília Meireles, há uma crítica à sociedade quanto a sua indiferença com o idoso, sendo possível perceber um sentimento de angústia e incapacidade por parte do eu lírico. De forma análoga, essa percepção da autora se sustenta na atualidade, em face de falhas na política de acolhimento e na prática do respeito no âmbito coletivo. Dessa maneira, faz-se necessário desconstruir esses entraves a fim de efetivar, de fato, os direitos da terceira idade no Brasil.     Em primeiro lugar, essa condição recai sobre o caráter constitucional. Conforme o ideário aristotélico, a política deve ser usada de modo que, por meio da justiça, o equilíbrio seja alcançado na sociedade. Sendo assim,é dever do Estado garantir políticas públicas à terceira idade, como bem estar físico e psicológico, suporte financeiro, saúde e segurança.No entanto, de acordo com um estudo do ''Serasa Experian'', apenas 4,6% dessa população possui boas condições de vida, e esta, por sua vez, é alcançada mediante investimentos particulares, o que evidencia que o país não tem oferecido o mínimo de recursos necessários. Assim, cenários como esse inviabilizam a implementação de uma qualidade de vida efetiva para esses indivíduos.      Ademais, o desrespeito à dignidade e integridade configura outro atenuante. Atualmente, o envelhecimento é um conceito que tem uma conotação negativa, pois é relacionado à perda das faculdades físicas, risco maior de mortalidade e custos para a saúde. Nessa perspectiva, a família tem se distanciado gradualmente dos seus deveres, uma vez que, segundo dados de um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), um idoso é agredido a cada dez minutos no Brasil, e em 70% dos casos, o agressor é o próprio filho. De fato, tal condição de vulnerabilidade na qual a população idosa se encontra evidencia que a valorização e o respeito são pilares sustanciais na construção de uma sociedade equalizada .      Infere-se, portanto, que o Brasil possui obstáculos na efetivação dos direitos da terceira idade. Para reverter esse cenário, é substancial que o Estado, em primeiro lugar, administre adequadamente as políticas públicas (saúde,moradia e segurança), que devem ser fiscalizadas pelos Conselhos do Idoso, Ministério Público e Estatuto do Idoso, a fim de superar o déficit da previdência, a falta de qualificação profissional e oferecer atendimento humanizado à população idosa .Além disso, a educação deve ser instrumento de conscientização e mudança de comportamento, a partir das instituições de ensino, via palestras e debates, com o objetivo de possibilitar enxergar o atual jovem como um potencial idoso. Dessa forma, tornar-se-á possível reconhecer e valorizar o aporte que a pessoa idosa teve e ainda pode ter na sociedade.