Enviada em: 24/05/2018

Apropriação cultural é caracterizada quando uma cultura dominante torna próprio um adereço de outra cultura que sempre foi discriminada. Incentivada, majoritariamente, por um sistema capitalista e defendido pela globalização, é inevitável que haja a mistura entre culturas, porém o verdadeiro problema está na não conscientização e das muitas vezes discriminação desses mesmos adereços quando utilizados pela cultura dominada. À mulher negra, o afro é utilizado para fins políticos, um resgate à ancestralidade que muitas vezes é alvo de racismo, já, quando uma mulher branca utiliza-se dos mesmos objetos, é considerada moderna e multicultural.       A questão não são os adereços que a cultura dominante utiliza da cultura dominada, mas sim a invisibilidade que é dada àqueles que criaram o signo em primeiro lugar. Sueli Carneiro, filósofa e ativista negra formada em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), trabalhou em sua tese de doutorado o conceito de epistemicídio: a negação das contribuições afro-brasileiras e africanas tanto no meio acadêmico quanto cultural. Os negros, desde a época das Grandes Navegações e escravidão, eram forçados a abandonarem suas culturas. Para isso, os senhores dos engenhos raspavam os cabelos dos escravos, pois reconheciam a grande importância religiosa que havia a eles. O turbante surgiu, então, como um objeto de resistência, manifestação e asseguração da cultura afro-brasileira antes perdida.        Devido à ótica europeia que somos induzidos a seguir desde nossa formação escolar e histórica, é gerado um enorme déficit intelectual de culturas que participam ativamente de nossa miscigenação como a afro-brasileira e a indígena. Não são raras as vezes que são utilizados adereços negros em capas de revistas, sem que haja a participação de mulheres negras na campanha. Isto gera um imenso abismo entre o que é ser negro e o que a moda negra representa em uma sociedade capitalista.        Em suma, é necessário que as escolas insiram em sua grade curricular fixa matérias relacionadas à ancestralidade brasileira que fujam do padrão europeu como, por exemplo, aulas de Literatura afro-brasileira e indígena. ONGs relacionadas às causas sociais poderiam expor suas causas, conscientizando aqueles que gostariam de homenagear as diversas culturas que fizeram parte da formação do Brasil. Revistas e mídias devem, também, dar espaço a atores e modelos negros dando visibilidade e empregabilidade às suas causas por meio de campanhas, para que não haja divisão entre o que é ser negro e o que representa a cultura afro-brasileira em nossa sociedade.