Enviada em: 19/08/2017

O sociólogo Zygmunt Bauman aponta como características da "modernidade líquida", iniciada ao final do século XX, o consumismo e a fragilidade das relações humanas. Todavia, o surgimento, na contemporaneidade, de diversas iniciativas voltadas a buscar formas menos impactantes de consumo, por meio da conexão entre pessoas, indica importante mudança comportamental. Torna-se necessário, portanto, debater a tendência de crescimento das economias colaborativas no Brasil do século XXI.       A priori, cabe mencionar a importância de momentos de dificuldade financeira para repensar hábitos e criar alternativas de consumo. Nesse sentido, haja vista a crise financeira que assola o país, surgem diariamente ideias econômicas criativas e sustentáveis de empréstimo, troca e compartilhamento de bens materiais. Essa iniciativas de colaboração, utilizando-se das tecnologias de rede, como Facebook, além de ajudarem a reduzir gastos, aproximam laços interpessoais, pois os indivíduos precisam interagir mais e dependem uns dos outros para permitir o funcionamento desse sistema. Um exemplo a ser citado é o da "Roupateca", iniciativa paulista na qual, por meio de assinatura mensal, é possível ter acesso a um guarda-roupas compartilhado, com centenas de peças, o que, sem afastar as pessoas dos produtos do sistema capitalista, prova ser possível usufruir de mais itens possuindo menos.        Ademais, as plataformas digitais de "crowdfunding" retiram dos empresários e transferem para a sociedade opções de consumo. Nesse contexto, os filósofos Adorno e Horkheimer apontam como típica do sistema capitalista a Indústria Cultural, por meio da qual se vendem ideias voltadas à conservação do sistema econômico e do poder das elites. Sob essa ótica, sites, como o "Catarse", no qual se pode divulgar projetos e arrecadar investimentos de toda a sociedade, subvertem essa lógica de padronização e se inserem definitivamente nos hábitos de consumo da coletividade. Assim, sem a necessidade de se submeterem aos interesses das mídias de massa, artistas e pesquisadores ganham maior liberdade criativa e a população lucra em produção cultural e intelectual independentes.        Por fim, seja como estratégia econômica ou como escape da doutrinação cultural, as economias colaborativas se inserem cada dia mais no cotidiano do brasileiro. Para ampliar ainda mais iniciativas, o Governo Federal, aliado ao SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas -, deve promover concursos de inovação e financiar novos projetos de economia colaborativa, para amenizar e reverter o cenário de crise. Conjuntamente, as Secretarias de Educação Municipais podem inserir nas escolas jogos educativos que, ao valorizarem a criatividade e o raciocínio crítico, formem alunos ávidos por novas ideias e produtos, que não aceitem a massificação como padrão de consumo. Talvez, assim, seja possível substituir a cultura da liquidez pela da sustentabilidade.