Enviada em: 23/10/2017

De acordo com Paulo Freire, é preciso educar para a paz, sendo fundamentais a diversidade e a igualdade no ambiente escolar. Entretanto, contrariando essa lógica, evidenciam-se, através das crianças, as violências presentes na sociedade. Nesse sentido, o bullying é reflexo de valores sociais calcados em preconceitos históricos, que são estimulados pela omissão dos pais e da escola.    Nesse viés, existe uma indiferença familiar, uma vez que não há diálogo e acompanhamento da vida escolar das crianças e adolescentes. Por essa razão, potencializam-se os casos, pois o indivíduo em fase de construção – ao não receber orientação que o ajude a formar julgamento moral e, assim, distinguir atitudes não aceitáveis– é mais influenciado pelos meios de comunicação, os quais transmitem inúmeras cenas de violência, que podem ser reproduzidas na escola e na internet. Por consequência, 60% dos estudantes da América Latina já testemunharam ou sofreram bullying, segundo a Organização das Nações Unidas. Com efeito, se os pais não mantêm relacionamento aberto com os filhos, não há estímulo às denúncias da vítima ou de quem presencia tais situações.    Outrossim, conforme Émile Durkheim, a educação é um fato social, pois desempenha importante papel ao transmitir regras de comportamento, transformando-as em hábitos. Sob tal aspecto, a escola é uma instância de socialização, ou seja, ela não se limita a ensinar conteúdos, também deve propagar noções de cidadania. Não obstante, a despeito de existir uma lei específica que instituiu o Programa de Combate à Intimidação Sistemática – que responsabiliza escolas pela promoção de medidas de conscientização e combate ao bullying –, o fenômeno ainda é recorrente, assim, há uma negligência escolar. Por conseguinte, o modelo pedagógico vigente privilegia as disciplinas tradicionais e ignora uma formação que promova valores de respeito e empatia. Destarte, as vítimas têm a aprendizagem e socialização afetadas, desenvolvem distúrbios psicológicos e alimentares, e até cometem suicídio.    Torna-se evidente, portanto, que há uma omissão cultural do bullying. Nessa perspectiva, as escolas devem formular regras contra a prática em seu Projeto Político Pedagógico, permitindo a todos diferenciar brincadeiras de intimidações, mediante debates e atividades que trabalhem o respeito e a tolerância às diferenças individuais e socioculturais. Cabe aos pais, por meio da construção de uma relação de confiança e diálogo, identificar em seus filhos atitudes indicativas de agressão, sofrida ou praticada, e procurar apoio de profissionais da educação e saúde, com intuito de resolver e minimizar efeitos. Ademais, é fundamental que o Ministério da Educação incorpore nos cursos de licenciatura a formação para mediação de conflitos, permitindo aos professores uma ação efetiva e imediata, que solucione os impasses em sala. Assim, estabelecer-se-á uma cultura de paz, como almejava Freire.