Enviada em: 19/10/2018

A herança oligárquica e fundiária é, lato sensu, arraigada à cultura política brasileira, sobretudo na exaltação dos grandes líderes carismáticos, que são associados ao patriarcalismo nacional pelos indivíduos sectários, bem como no notável cordialismo que permeia as relações de poder instituído, conforme definição contida na teoria sociológica de Sérgio Buarque de Holanda. A priori, conturbada e elitista, essa delimitação dos regimes administrativos é marcada por períodos democráticos e autoritários, nos quais o voto eleitoral foi elencado às constituições sob expansão gradativa dos direitos de cidadania ampla e irrestrita à população. Doravante, o fato de não existir educação política efetiva no sistema de ensino brasileiro, condiciona os indivíduos à apatia social quanto as funções hierárquicas dos cargos governamentais, que se conflui na dispersão da cobrança dos direitos civis constitucionais.        Por conseguinte, a Constituição de 1946 ampliou o direito ao voto, a medida que abarcou o sufrágio universal. Todavia, na iminência da Guerra Fria, o seu texto somatizou a hegemonia situada em um dos pólos, que posteriormente condensou-se na "caça às bruxas" promovida pela Ditadura Civil-Militar. A posteriori, a prevalência dos direitos políticos somente ocorre na promulgação da Constituição Cidadã de 1988, no entanto, a brevidade histórica de sua cobertura social permite a existência de equívocos jurídicos e administrativos na tripartição dos poderes, assim como a aglutinação populacional quanto ao dimensionamento da importância do voto e do processo eleitoral.        Outrossim, o distanciamento popular das decisões coletivas é derivado desses processos de construção social, que exaltam fatos específicos, visando manter correntes de isolacionismo político à grupos elitistas - antípodas à democracia. Consoante a isso, um dos claros exemplos dessa característica é a sub-divulgação de figuras ilustres na historiografia política nacional, como a notável cientista brasileira Bertha Lutz, que lutou pela ampliação do voto às mulheres na Constituição de 1934, promulgada por Getúlio Vargas - a quem atribuiu-se esse "privilégio" -, também coautora da igualdade de gêneros, embutida na Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU.        Em síntese, a democracia é uma construção diária de rompimento às amarras segregacionistas e patriarcais que compõem a cultura política brasileira, caracterizada pela atribuição de conquistas sociais à figuras carismáticas, em detrimento da luta coletiva. Portanto, é essencial que ocorra a inclusão da Ciência Política na grade curricular do ensino básico por meio do Ministério da Educação, haja vista que somente a educação poderá reconstruir o que, de fato, se configura como evidência na identidade brasileira. Além disso, as ONGs, museus e demais instituições culturais possuem papel primordial na captação do público, pois como dizia Millôr Fernandes, "o Brasil tem um enorme passado pela frente".