Enviada em: 24/08/2019

No panteão grego Cronos, deus do tempo, é apresentado em um discurso mítico que faz uma analogia ao tempo, aquele que tudo devora. Nessa narrativa, a vida é intrínseca à cronologia, sendo portanto o envelhecimento um fator incondicional. Diante disso, frusta constatar a forma como, sobretudo hodiernamente, o idoso tem sua dignidade esfacelada, posto que os sentimentos depreciativos e a indiferença pública e comunitária são alicerces das relações entre indivíduos senis e o seu meio sociofamiliar.       Em primeiro plano, é imperioso destacar que o longevidade é marcada, muitas vezes, pela ideia de impotência que vai ao encontro do individualismo contemporâneo. Sob essa perspectiva, o autor austro-húngaro Franz Kafka no seu livro “A metamorfose” ressalta a sensação de não pertencimento de um indivíduo que já não se enquadra nas relações familiares e sociais, posto que estas, encontram-se marcadas pelo enfraquecimento da afetividade. Partindo desse pressuposto, é compreensível que a indiferença sentida pelo longevo é propulsora de análises que reforçam o estereótipo de que o idoso é um peso para sociedade.        De outra parte, a falha nas instituições -no que diz respeito à efetividade dos direitos- limita a cidadania desses indivíduos. Em face disso, os ditames legais estabelecem no Estatuto do Idoso, especialmente no seu artigo 3°, as obrigatoriedades do corpo social e do Poder Público para garantia de respeito e dignidade do senescente. No entanto, a realidade é dotada de distanciamentos dos preceitos normativos, sendo, portanto, marcada pelo desprezo. Dessa maneira, entende-se o panorama vivenciado como uma problemática social que exige ressignificação de valores.       Depreende-se, pois, a essencialidade de atenuar este descompasso atemporal. Para esse fim, o núcleo familiar, no papel de formador de laços de afetividade, deve estimular o respeito entre gerações, instrumentalizado pela valorização de seus genitores e pelo cultivo do respeito, a fim de promover um quadro de acolhimento ao idoso. Além disso, cabe as autarquias de apoio ao idoso oferecer amparo ao indivíduo da terceira idade que de qualquer forma tiver sua dignidade desrespeitada, mediante a proteção contra violência física e psicológica - como são previstas em lei- com o intuito de fortalecer a cidadania e minimizar os impactos desses problemas. Feito isso, o envelhecimento não será motivos de aflição e medo marcados na narrativa grega.