Enviada em: 15/04/2019

Como nação alicerçada sob profundas disparidades sociais, o Brasil revela fortes conflitos de classe que, mostram à sociedade que a segregação - já presente no período colonial mediante a escravidão - ainda persiste na dinâmica nacional. Sob esse aspecto, o fenômeno social dos ''rolezinhos'', encontros  de jovens em espaços até então restritos a camadas mais elevadas da população, instiga a sociedade a refletir sobre o que tais acontecimentos representam. Nesse contexto, deve-se analisar como a omissão de políticas governamentais para a periferia e o prejulgamento de parcela da sociedade colaboram para um mal entendimento sobre o significado dessa manifestação.        Primeiramente, a ausência de ações do Estado que visem promover entretenimento à juventude periférica é a principal motivação para fenômenos como os ''rolezinhos''. Isso acontece porque, o Governo brasileiro, de modo lamentável, ignora medidas que estimulam a sociabilidade dos jovens menos privilegiados, como eventos culturais em forma de shows, gincanas, etc. Em decorrência dessa desatenção, os adolescentes acabam por desenvolver seus próprios meios de interação e entretenimento em espaços pouco usuais a suas rotinas, como shoppings, por exemplo. Não é à toa, então, que, em diversas matérias televisivas sobre tais encontros, os participantes afirmam que os ''rolezinhos'' são, na verdade, uma forma de divertir-se e escapar da rotina pouco atrativa no subúrbio.       Atrelado à omissão estatal, o preconceito de parte da população brasileira, que vê o jovem da periferia como nocivo, também é responsável para uma má interpretação sobre os ''rolezinhos''. Isso decorre de um senso comum impulsionado pela mídia, que mostra as pessoas da periferia como se fossem um perigo aos ambientes que possam ser frequentados por elas. Nos shopping centers, é comum que grupos de ''rolezeiros'' sejam barrados por seguranças que, erroneamente, alegam que tais jovens têm a intenção de comprometer a ordem do local por meio de arrastões, o que prova um forte preconceito social no Brasil. Por consequência de tal discriminação, como pontuou o autor Sérgio Buarque de Holanda, o sujeito pobre brasileiro é segregado e impossibilitado de ter uma vida social.   Torna-se evidente, portanto, que é papel do Estado e da sociedade instituir mecanismos de sociabilidade para adolescentes periféricos e combater o preconceito. Em razão disso, o Ministério da Cultura deve, por meio de parceria público-privada, construir centros culturais em todas as capitais brasileiras, que ofertarão práticas esportivas, artísticas e profissionalizantes, como cursos técnicos e a realização de torneios de futsal e natação. Ademais, a imprensa, enquanto veículo influenciador, deve, com campanhas televisivas e afim de vencer visão tão negativa da sociedade, convocar a população a enxergar o jovem da periferia como ser capaz de agregar ao país.