Enviada em: 30/08/2018

Recentemente, Coritiba, capital do Estado do Paraná, foi palco de uma manifestação organizada pelos professores da rede pública que clamavam por aumento salarial. O ato foi brutalmente reprimido pela Polícia Militar, além de que parte da população civil manifestou abertamente resistência e descontentamento ao movimento que, inclusive, frequentemente foi acusado de ''vagabundagem''. Essa situação é o reflexo da dificuldade histórica que o Estado e a sociedade tem quanto à valorização do profissional docente e à implementação de políticas públicas que visem ao seu desenvolvimento profissional.         Nesse sentido, o docente nunca gozou plenamente de um ''status'' econômico expressivo, sendo historicamente associado ao âmbito da prática humanitária, muito semelhante ao que ocorre com o trabalho voluntário, isso é, a presença de um reconhecimento social frente à necessidade e a importância coletiva da profissão, porém, destituído da valorização salarial. No entanto, o prestigio social da profissão, muito comum no passado, onde predominavam as vilas e cidadelas, está em risco atualmente. Essa situação pode ser evidenciada pelos dados divulgados pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que apontam para um crescente desinteresse dos jovens pela a carreira docente. Portanto, é perceptível, em casos como o da deslegitimação do protesto supracitado, a urgente necessidade de se valorizar os professores, fundamentais para estrutura social.               Porém, visto que o próprio Estado contribui, por meio de repressões físicas e ausência de políticas, com essa desvalorização, é essencial pensar nas causas de tal contexto. Cabe ressaltar que, a partir da consolidação do capitalismo financeiro como modelo econômico global, o trabalho foi diretamente associado ao lucro. Logo, profissões como a do professor, que não geram lucro de maneira  evidente e imediata acabam por serem desvalorizadas financeiramente. Essa desvalorização acaba sendo naturalizada pelo próprio Estado, que oferece pisos salariais muito baixos e ainda reprime com força bruta os protestos da classe docente.              Portanto, para que o cenário de repressão policial e julgamentos civis cessem, e a profissão docente possa ser valorizada na sociedade atual é preciso um profundo trabalho conjunto entre o Ministério da Educação e o Ministério da Cultura. De tal maneira que o MEC desenvolva projetos de inserção política da classe docente, com fim de legitimar os anseios de aumento salarial. Além do Ministério da Cultura, que deve promover debates e palestras com a população sobre a importância econômica e social do professor. Dessa forma, a sociedade brasileira poderá oferecer uma estrutura educacional de qualidade e os professores terem condições dignas de trabalho.