Enviada em: 25/09/2019

Comidas superprocessadas, bebidas ricas em açúcares, academias e remédios para emagrecimento, fazem parte das propagandas de quase todo veículo de comunicação em massa. As contradições entre informes publicitários imperativos como "coma" e "emagreça", coloca a sociedade em uma situação de eterno desconforto e desprazer, onde a satisfação e a autorrealização tem forte ligação com a superalimentação e a busca por medicamentos, potêncialmente danosos, para redução de peso. Logo, a busca pela qualidade de vida ganha um significado perigoso e carregado de preconceito.   Ademais, de acordo com o psicanalista Sigmund Freud, inconscientemente, todas as pessoas estão propensas a substituir a satisfação de desejos originais reprimidos por outros. Dessa forma, as causas que derivam comportamentos obsessivos e de dependência emocional em relação à comida, muitas vezes, estão ligados à uma fragilidade psicológica do indivíduo que não dispõe de algumas de suas vontades primárias atendidas, como afeto e aceitação social. Portanto, alimentos altamente calóricos, aliados a intensa propaganda, e, em especial, jovens e adultos já marginalizados e discriminados pelo sobrepeso, criam um ciclo vicioso do qual dificilmente se escapa. Ou seja, a mesma comida que exclui também conforta.   Similarmente, a indústria farmaceutica da "beleza" agrava a situação na medida que constantemente cria e reformula os conceitos do que é belo ou bom. Com isso, incuba e distribui preconceitos que passam despercebidos em meio às pretenciosas ações de marketing normativo de seus produtos. Tais ações tem por objetivo final a concretização da venda, não levando em consideração o conceito individual e subjetivo de uma vida saudável e com qualidade; pelo contrário, mostra-se que o único caminho traçavel para tal será pela adequação à um formato de corpo e peso previamente estabelecido pelas mesmas. Como consequência, temos pessoas que não aceitam o próprio corpo e arriscam a própria saúde tomando medicamentos deliberadamente e sem acompanhamento médico.   Portanto, é mister que o estado enquanto responsável pela instalação e manutenção do bem estar social tome providências para melhorar o quadro atual. Para que a saúde física e mental da população não fique à mercê das empresas que criam os padrões e lucram com a consequente incorporação destes, urge que o CONAR realize inspeções detalhadas de propagandas ligadas a produtos de controle do peso e avalie seus impactos negativos à população. Se constatado abuso ético, o orgão deve solicitar a interrupção da veiculação deste. Assim, diminuie-se as controvérsias na TV, e deixa-se para as pessoas a significação da qualidade de vida com o mínimo de influência de quem lucra com a segregação corporal e preconceito.