Enviada em: 13/08/2019

No Livro “Quarto de Despejo”, publicado em 1960, a escritora Maria Carolina de Jesus relata a sua luta diária com a fome e, inclusive, adjetiva essa sensação com a cor amarela, que seria a cor que as coisas e o mundo passam a ter quando se está sob o efeito dela. Da mesma forma, no Brasil do século XXI, esse grave problema social ainda persiste, atingindo mais de 5 milhões de brasileiros, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). Isto posto, infere-se que a fome é um problema real, no Brasil, e, por isso, avaliar as suas causas e consequências é fundamental para que sejam desenvolvidas medidas resolutivas para essa questão.     Em primeira análise, cabe pontuar que a principal causa da permanência da fome, no país, é a imensa desigualdade social existente, uma vez que, de acordo com o Índice de Gini, o Brasil é o décimo país mais desigual do mundo. Por consequência, esse desequilíbrio estratifica a população por critérios de renda e poder aquisitivo, colabora para a distribuição desigual dos alimentos, tal como contribui para o seu desperdício. Dessa maneira, o problema da fome, no Brasil, não se alicerça na escassez de alimentos, mas sim, na viabilidade financeira das pessoas em comprá-los. Por exemplo, é comum, infelizmente, observar pessoas em frente aos supermercados pedindo comida, o que corrobora com a desigualdade no acesso ao alimento e protela a inópia nas camadas mais pobres da população.     Outro ponto relevante, nessa temática, são as consequências que a privação alimentar continuada acarreta aos indivíduos. Nesse viés, conforme o jornal eletrônico Politize, a fome gera prejuízos físicos e mentais, os quais prejudicam a cognição, a prática laboral e acarretam o surgimento de diversas doenças. Por conseguinte, as pessoas submetidas costumeiramente à fome, dificilmente conseguem ascender socialmente, já que todo seu desenvolvimento físico e intelectual é afetado, propiciando que essa condição perpetue por toda a vida. Ademais, o aumento da violência nos centros urbanos e rurais, também pode ser um dos reflexos da problemática, já que, muitas vezes, para saciar a fome da família, a única alternativa viável para a aquisição de alimentos é através da realização de pequenos furtos.     Portanto, para que a história de vida de Maria Carolina de Jesus deixe de perpetuar na sociedade brasileira, o Ministério da Cidadania, em parceria com o da Educação, deve viabilizar a realização de capacitações profissionais para indivíduos de baixa renda desempregados, por meio de profissionais especializados, a fim de oportunizar-lhes a obtenção de trabalho remunerado. Além disso, o Estado deve prover alimentação de qualidade a todos os alunos de escola pública, adquiridos por meio de produtores locais, a fim de incentivar a produção regional e a geração de empregos, bem como garantir, pelo menos, uma refeição a esses jovens. Assim, a fome deixará de fazer parte da realidade brasileira.