Enviada em: 01/10/2018

Na obra “Vida Secas”, publicada em 1938, o autor modernista Graciliano Ramos narra as dificuldades enfrentadas por uma família, devido à severa falta de água no sertão nordestino. Nesse sentido, o cenário da escassez dos recursos hídricos ainda persiste nessa região, sendo também uma realidade comum em várias partes do país. Dessa maneira, é pertinente analisar os impactos da escassez de água hodiernamente, reflexos da falta de educação ambiental e inobservância estatal.     Em primeira análise, a falta de água assume uma conjuntura de descaso ambiental e falta de eficiência. A Revolução Verde, ocorrida no século XX, propiciou a inovação de varias técnicas agrícolas, dentre elas a irrigação, elevando o uso da água a um novo patamar. Entretanto, a ausência de eficiência no seu uso impõe desafios, principalmente, à sua gestão no campo e na indústria, o que influi de maneira direta para problemas de produção e alta dos preços. Outrossim, não obstante a água seja um recurso renovável, a forte contaminação de rios, seja por fertilizantes ou por substâncias químicas industriais, estabelece dificuldades de purificação desse recurso. Exemplo disso é o desastre ambiental ocorrido em Mariana, o qual evidenciou o alcance de ações negligentes da iniciativa privada, que pouco se preocupa com o impacto ambiental. Logo, a destinação irregular de resíduos e a falta de eficiência no que tange ao reúso, geram impactos tanto da diminuição da oferta, quanto econômicos.      Além disso, a má gestão das políticas de saneamento básico expõe uma das faces da problemática. Isso porque a falta de redes de canalização e tratamento de esgoto favorece a contaminação e a poluição de áreas próximas aos corpos hídricos, o que, por conseguinte, atua num viés que restringe a oferta. Nesse contexto, em uma época de intensas mudanças climáticas, a escassez de água faz com que os indivíduos tenham que recorrer a fontes impróprias para o consumo, o que abre margem para a instalação de doenças. Exemplo disso são dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostram 35% das cidades do país sendo afetadas por doenças ligadas à falta de saneamento. Em razão disso, além da proliferação de doenças, ocorre a diminuição da qualidade da água e gera efeitos na garantia futura desse recurso.      Urge, portanto, ações capazes de mitigar os impactos da escassez de água. Assim, as ONGs, por meio de financiamentos coletivos, devem propagar ações de incentivo ao reúso da água nas indústrias, além de atuar na fiscalização do descarte irregular de substâncias químicas nocivas em rios, a fim de otimizar o uso da água e promover sua oferta. Por fim, cabe ao Ministério das Cidades, ampliar as políticas no âmbito dos serviços de saneamento básico, com ênfase, para a coleta e tratamento de esgoto, com o fito de atenuar o descarte irregular em corpos hídricos e garantir a qualidade da água.