Enviada em: 01/10/2018

Em Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos, tem-se uma família em busca da sobrevivência frente a seca no nordeste brasileiro. As diversas privações enfrentadas por Sinhá Vitória, Fabiano, seus dois filhos e a cadelinha Baleia mostram o drástico impacto sobre a vida quando submetida ao estresse de recursos hídricos. A narrativa, contudo, transpassa as páginas de Ramos e assume caráter preocupante, pois no mundo, de acordo com a ONU, mais de 2 bilhões de pessoas não têm acesso a fonte potáveis. Diante da gravidade do tema, que norteia a garantia à vida e à dignidade, urge a discussão acerca dos impactos da escassez de água no século XXI.    Destaca-se, a princípio, a capacidade de o estresse hídrico potencializar a miséria. Há, em escala global, a desigualdade na oferta de tal recurso, sendo este prevalente em regiões desenvolvidas, destinado, mormente, à indústria e ao setor agropecuário. Os espaços pobres, por outro lado, sofrem com a falta, seja devido à má gestão daquilo disponível, seja no mal tratamento desse solvente por saneamento, contexto observável em nações da África Subsaariana, como a Somália, cuja pobreza é maximizada não somente pelos conflitos, mas também, pela sede e pelas doenças advindas de contaminação hídrica. O filósofo Immanuel Kant aborda conceitua dignidade ao aferir que os objetos que nos cercam detêm preço e o homem, valor. Percebe-se, em suma, a importância desse fluido para bem-estar e existência digna, em risco ante as disparidades vistas.     Sob essa ótica, o desperdício de água é relevante contribuinte ao risco hídrico. Em pesquisa realizada pelo o Instituto Trata Brasil, comprovou-se que, em captação e distribuição, desperdiçamos 38% dos meios potáveis, em 2016, implicando perdas de mais de 10 bilhões de reais, quase o orçamento anual ao saneamento básico nacional. Ressalta-se, ainda, a cultura quase incipiente de poupar água do cidadão brasileiro. Logo, vê-se a falha administração desse bem e a ausência de consciência em seu uso que, cujo estado propício ao consumo é cada vez mais finito.    Pondera-se, destarte, haver desafios ao combate à escassez hídrica no século XXI. A fim de mitigá-los, faz-se imprescindível a atuação do Ministério das Cidades o qual deve otimizar o orçamento para a construção de Estações de Tratamento de Água e Esgotos, junto a Secretarias Estaduais, bem como fiscalizar e reformar captadores de condutores hídricos nas áreas urbanas, evitando o desperdício. O objetivo também é democratizar saneamento básico e água potável, coibindo doenças atreladas ao esgoto mal remanejado. Ainda, o MEC deve implementar a educação hídrica em escolas, incutindo em jovens noções acerca da importância em preservar a água, munindo os futuros adultos de preceitos de cidadania. Assim, caminhar-se-á ao desenvolvimento, deixando Vidas Secas no passado.