Enviada em: 30/06/2019

No romance Ninguém Escreve ao Coronel, de Gabriel Garcia Marques, a personagem central vive a angustia da chegada à terceira idade, como também dúvidas de como iria conseguir prover seus sustentos de aposentadoria. Assim como no romance, a população brasileira perpassa por um gradativo envelhecimento, ocasionando significativa mudança na sua composição etária, isso implica em determinados impactos à sociedade. Para ilustra-los, temos a diminuição da população economicamente ativa, somado ao incremento de gastos na área da saúde.       Em primeira análise, o aumento da população idosa diminui a quantidade de mão de obra disponível no mercado. O que por sua vez pode ser um fator de desequilíbrio para a manutenção do sistema previdenciário brasileiro. Consoante aos estudos do Instituto de Economia Aplicada (IPEA), a rarefação de profissionais em idade ativa pode levar a um desajuste das contas públicas no valor de 500 bilhões de reais até 2035. Nesse sentido, a mudança do cenário das pirâmides etárias no contexto nacional implica em uma necessidade de preparação por parte dos órgãos públicos para que essa realidade possa ser absorvida da melhor forma possível.       Outrossim, além de problemas previdenciários, o envelhecimento da população brasileira carreará em maior demanda de serviços públicos. Dessa maneira, as esferas governamentais, as quais já alegam escassez de recursos, passarão a ter seus gastos multiplicados. Segundo o Doutor Drauzio Varela, se em quinze anos não houver uma duplicação no orçamento para a saúde, nem a metade dos idosos brasileiros poderão ser atendidos de forma satisfatória. Esse cenário impacta diretamente na qualidade de vida das pessoas com mais idade, porém, igualmente afeta as mais jovens que passarão a sofrer abalos psicológicos ao vislumbrarem o desamparo de seus familiares.       Em virtude dos fatos mencionados, portanto, algumas intervenções devem ser tomadas. Nesse diapasão, o Governo Federal, através de ampla participação social, deve promover reforma do sistema previdenciário, de modo que privilégios sejam cortados em prol da manutenção do direito a aposentadoria digna ao maior número possível de pessoas. Ademais, o Sistema Único de Saúde (SUS), precisa se preparar para atender o aumento do contingente de idosos no futuro por meio de reformulação de seus serviços, os quais devem se espelhar em países como Holanda, Japão, Noruega, dentre outros, que já apresentam a transição etária discutida, e otimizaram seus recursos, ao passo que ampliaram o atendimento à terceira idade. Assim, mostrando valor e respeito pelos mais experientes, será possível construir uma sociedade mais equilibrada.