Enviada em: 31/03/2019

A novela Chiquititas, reestreada em 2013 pelo SBT, mostra o cotidiano de diversas crianças e adolescentes que vivem em um abrigo de adoção. No entanto, a imagem criada na novela distancia-se da realidade do processo de perfilhação brasileiro, que segue um padrão de exigências por parte de quem adota, possui popularidade por ser burocrático e ainda não é para todos.             Considerando-se que atualmente a maioria dos adotandos que aguardam por uma família são negros, adolescentes, com irmãos e portadores de deficiências, percebe-se que há uma idealização no perfil da criança por parte das famílias que querem adotá-la. Desse modo, é perceptível a materialização no processo de adoção, pois ao escolher características desejadas em um ser humano, o indivíduo está equiparando-o a um objeto, sendo prejudicial para as crianças que não se encaixam no perfil escolhido, pois as mesmas sentem-se excluídas e permanecem nos abrigos até atingirem a idade adulta.              Ademais, muitas pessoas desistem de entrar no processo de adoção porque o julgam demorado e burocrático. Entretanto, a burocracia deste processo torna-se necessária, uma vez que é preciso fazer um estudo aprofundado da família em questão, para avaliar se ela está apta psicologicamente e economicamente para adotar uma criança ou um adolescente.            Outrossim, a Constituição de 1988 ampliou os tipos familiares passíveis à adoção. Anteriormente, somente famílias que se enquadravam no perfil tradicional brasileiro podiam adotar, porém, após a mudança indivíduos divorciados, solteiros e em relacionamentos estáveis passam também a poder adotar. Contudo, a adoção ainda é muito restrita para os casais homoafetivos em consequência de uma herança homofóbica enraizada em nossa sociedade, fazendo com que essas pessoas sejam privadas de serem pais e também com que os adotandos continuem nos abrigos.            Impende então que medidas são necessárias para solucionar o impasse. O Governo deve mostrar aos interessados na perfilhação, por meio de campanhas, a realidade das crianças que vivem nos abrigos e o preconceito que sofrem por não entrarem dentro do perfil estabelecido. É importante também que o Senado, através de emendas na Constituição atual, permita que casais homossexuais possam ter o direito à adotar, pois os mesmos enfrentam dificuldades em realizar tal ação. Desse modo, será possível diminuir o número de crianças em abrigos e também desconstruir um padrão imposto pela sociedade.