Enviada em: 23/06/2019

Segundo Zygmunt Bauman , sociólogo polonês, a falta de solidez nas relações sociais, econômicas e politicas é característica da modernidade líquida no século XX. Os impasses no processo de adoção no Brasil, frente a ignorância dos adotantes quanto a realidade em que se encontram os órfãos e a falta de uma mudança de mentalidade entre as famílias, reflete essa realidade.      Em primeira análise, diante de um assunto tão delicado para as crianças e adolescentes que vivem nos orfanatos é lastimável as rígidas exigências feitas pelos adotantes. De acordo com o conselho Nacional de Justiça, 90 a cada 100 órfãos têm mais de 7 anos, enquanto que 95 por cento dos pretendentes buscam crianças abaixo dos 4 anos. Dessa forma, é notório que o impasse não é a falta de adotantes, mas as idealizações feitas por eles. A maior parte das famílias que estão na fila de espera, ainda de acordo com o CNJ,  procuram crianças de pele clara, sem irmãos e sem deficiência. Padrões, esses, que não se encaixam na realidade dos orfanatos, os quais estão cheios de jovens e crianças, que independente das suas condições, anseiam por amor.    Ademais, a lenta mudança de mentalidade entre os pretendentes é outro fator que agrava a problemática em questão. A adoção deve ser vista como uma oportunidade dada àqueles adolescentes e crianças que tiveram seus direitos infringidos, como o direito à uma vida digna em seio familiar, garantido pela Constituição. Sendo assim, esse processo não deve apresentar-se como um mercado, onde as pessoas vão para comprar as mercadorias mais desejáveis aos olhos, porém como uma forma de amar e ser amado. A recente notícia de um desfile feito com órfãos em um shopping center, em Cuiabá, é um bom exemplo da exposição inadequada das crianças e de como a mentalidade das famílias que participam de um evento como esse, deve ser mudada.     Urge, portanto, medidas para solucionar os impasses no processo de adoção no Brasil. É necessário que instituições como o Conselho Tutelar e os orfanatos orientem, por meio de palestras e folhetins, os adotantes a respeito do real sentido da adoção e sobre a realidade em que a maior parte dos órfãos encontram -se. E, dessa forma, tanto os pretendentes, quanto os líderes dos orfanatos reflitam sobre esse processo e busquem lutar pelos direitos dessas crianças e adolescentes, a fim de que a adoção, como uma relação social, estabeleça-se de forma sólida em nossa modernidade e traga o progresso para as futuras gerações.