Enviada em: 01/11/2017

Há cerca de dois anos atrás, dois irmãos promoveram um atentado terrorista que deixou mais de dez mortos no jornal satírico francês Charlie Hebdo. Os assassinatos dos chargistas franceses trouxeram à luz um preconceito latente no mundo e no Brasil: a intolerância virtual. Nesse sentido, observa-se que existe uma fragilidade no poder do diálogo visto que os usuários estão confundindo cada vez mais a liberdade de expressão com proferir discursos de ódio, perpetuando a cultura da impunidade no Brasil.        A princípio, Gilberto Freye disserta em seu livro “Casa-Grande Senzala” sobre como a sociedade é uma triste reprodução da casa colonial. Seguindo essa linha de pensamento, a mídia social configura-se como a casa colonial de Freye à medida que os usuários cibernéticos disseminam ideias e valores arcaicos, baseando-se em um senso de individualismo crônico, mascarando sua intolerância com a liberdade de expressão que quando analisada sob um viés social tem sim, um limite. Como consequência, dados alarmantes divulgados pela empresa de segurança da internet Symantec mostram que o Brasil registra 54 crimes virtuais por minuto, fato que reforça a ideia da necessidade do combate no país.      Além disso, é preciso ressaltar que vivemos em uma sociedade tecnológica e globalizada que é hoje protegida pelo anonimato, facilitando a prática desses crimes. Isso é afirmado, pois são inúmeros os casos de misoginia, racismo, machismo e intolerância religiosa vistas na rede que ganharam uma repercussão midiática, mas não obtiveram êxito na questão judicial. Tem-se como prova disso o fato de que a jurisprudência nacional ter se mostrado a favor da condenação dos indivíduos que cometem delitos por meio da internet, mas por haver lacunas na lei a respeito do tema, ainda existem criminosos que não podem ser condenados.        Portanto, medidas cujo objetivo seja reverter esse quadro são cabíveis. Nesse contexto, a educação é fundamental. Logo, é dever das escolas públicas e privadas implantar palestras, debates e fóruns acerca da responsabilidade virtual e da importância de se respeitar os outros, evidenciando os males causados pelo cyberbullying. Assim, os jovens estudantes se tornarão seres mais conscientes e aptos a lutarem também contra a problemática. Ademais, cabe ao Poder Público unir-se com o Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT) para promover ouvidorias online a fim de que os casos de denúncia desse tipo de crime na rede sejam atendidos de forma mais rápida e essa prática não se perpetue no país tão facilmente. Afinal, a casa colonial não existe mais no mundo real e também não deve existir no virtual.