Enviada em: 09/05/2017

Biopolítica dos espelhos      O espelho de Macabéa, em "A hora da estrela" de Clarice Lispector, a superfície refletora no mito de Narciso ou o espelho nas telas do pintor Diego Velázquez revelam o poder que esse objeto exerce na sociedade e, nessa ótica, constrói uma verdadeira ordem mundial: A biopolítica dos espelhos. Sob esse prisma, cabe refletir sobre os "espelhos" modernos que domesticam o corpo, bem como, analisar o império do autorretrato que expõe o quanto o homem é vítima da própria imagem.   A princípio, cabe ressaltar que o espelho moderno, metáfora para mídia, domestica o corpo, impõe-lhe padrões e, o pior de tudo, transforma-o em produto. Cogita-se, mediante a perspectiva do sociólogo Michael Foucault, que há uma política que controla a vida através dos corpos dos indivíduos com regras que normatizam o ser esbelto, o cabelo liso e o nariz afilado, tudo que esteja fora desse contexto é considerado  o desleixado, o doente, o corpo improdutivo que precisa ser descartado. Há de se pontuar, nessa concepção, a propaganda da cervejaria que põe o corpo feminino, completamente estereotipificado, como sinônimo do verão brasileiro. Como consequência disso, vê-se, o aumento dos indivíduos nas clínicas plásticas, eufemismo para linhas de produções, com a finalidade de tornarem-se o "produto sem falhas".Logo, forma-se um verdadeiro império: A ditadura do corpo malhado.   É impreterível analisar, ainda,  que o autorretrato transforma o homem em vítima de si próprio. Nessa conjuntura, é possível tomar como exemplo a "selfie" que cerceia do home a socialização em troca da própria imagem estática, enclausurada, narcísica olhando para si mesmo. Não raro, toma-se conhecimento, de que boa parte da população polpa as finanças por toda vida para realizar uma viagem, mas não para usufruir do ambiente e das pessoas, e sim para obter um " click" com várias curtidas nas redes sociais . Entende-se, sob a égide do psicanalista Sigmund Freud, que o homem quando dotado desse narcisismo exacerbado perde-se em frente ao espelho, desconhece o verdadeiro "eu" e torna-se apenas mascaras sem rosto. Dessa forma, cada foto captura fragmentos do indivíduo, porque para esse, tudo perde o significado mediante o maior objetivo: A próxima "selfie".     De posse disso, desde Narciso até os atuais autorretratos, o espelho continua ditando como o corpo deve ser e agir. E para acabar com essa biopolítica, é necessário que a mídia desmistifique a utopia do corpo perfeito que ela criou. Além disso, que o Ministério da Educação amplie e inclua nos currículos disciplinas reflexivas, como psicologia e filosofia, para que a nova geração entenda que uma foto não pode ditar o rumo de uma vida. Assim, se essas, entre outras, medidas não forem tomadas o homem continuará guiado pela frase do conto infantil, " espelho, espelho meu, existe alguém mais do que eu ". bonito