Enviada em: 23/08/2018

O escritor italiano Humberto Eco aponta que aquelas produções relacionadas com o que já se fazia habitualmente possuem a tendência de serem mais bem aceitas. Uma vez que as obras modernas propõem um constante rompimento com o habitual, indubitavelmente passarão por dificuldades de serem bem recepcionadas, vide o exemplo da pintura impressionista, representada por artistas como Monet, que durante aproximadamente cinquenta anos fora duramente criticada por especialistas e hoje é altamente conceituada. O artista, em seu ofício, retrata seu tempo e seus sentimentos, mas ele deve respeitar algumas limitações, com as devidas ressalvas.      A exposição organizada pelo banco Santander com a temática "queermuseo" suscitou grande alvoroço e debate entre diferentes grupos sociais. Alguns, apontados como conservadores, acusam a exposição de pedófila e de ser ofensiva a símbolos religiosos da igreja católica. Esse segmento social se postou contra a continuidade da exposição. Há de se ressaltar que é natural uma produção causar polêmica, todavia os sentimentos gerados no caso específico ultrapassaram o campo da crítica e foram interpretados como uma afronta, levantando questionamentos sobre a necessidade de ser dado limites a essas produções e a seu produtores por terem causado mal estar social para parte da população.            Apesar de gerar constrangimentos para alguns, a liberdade de produção é essencial, pois sua retirada é a abertura para uma sociedade de censura e intolerância, na qual opiniões contrárias e comportamentos diversos daqueles previstos não serão admitidos. Como consequência disso, poderá ocorrer o sufocamento da diversidade assim como da pluralidade cultural, gerando marginalização daquilo considerado diferente e até, por que não, a criminalização de hábitos. Sem embargos, poderia até ser pensado como exagerado o último exemplo, todavia, ao vislumbrar o projeto de lei que almeja tornar ilícita a reprodução do ritmo funk do Rio de Janeiro, é possível notar que o risco é real.            Defender a liberdade do outro, por conseguinte, não é sinônimo de concordar, aceitar como certo ou tomar como referência estética, perpassa por também ser livre para pensar e produzir. Nesse diapasão, as instituições que queiram oferecer determinado evento precisam alertar sobre a natureza de seu tema, apresentando uma classificação etária em local de fácil visibilidade, informando sobre as possíveis impropriedades de conteúdo, para que o público esteja ciente das temáticas e das peças que poderão ser encontradas na apresentação, ficando a cargo de cada um a decisão de frequentar ou não a amostra cultural, evitando assim o constrangimento de uma possível surpresa. Como já explorara o escritor Tolstoi, a arte é a comunhão entre o autor e aquele que aprecia sua obra. E sabe-se que, no Brasil, ninguém é obrigado a ter comunhão com o outro.