Enviada em: 17/03/2019

Durante a Idade Média e Moderna, o Tribunal do Santo Ofício queimou na fogueira o conhecimento de pensadores que extrapolaram a cosmologia teocêntrica da Igreja Católica. Lamentavelmente, essa realidade é recorrente, pois, nos dias de hoje, artistas e instituições culturais sofrem a mesma reação conservadora, e, por vezes, precisam encerrar exposições artísticas, como visto no Queermuseu e no MASP.      De fato, a questão do rompimento de limites é preconceituosa em relação à arte. Por exemplo, quando o Velho do Restelo, em “Os Lusíadas”, dirigiu-se à multidão para criticar as viagens ultramarinas portuguesas, nenhuma alma engrossou-lhe a voz; mas, posteriormente, a Igreja Católica aproveitou as descobertas lusas e enviou uma horda de jesuítas para catequizar índios americanos. Ou seja, temos o fogo aos inimigos e as alianças aos amigos (do poder econômico ou religioso).      Por outro lado, se não houvesse logrado êxito as transgressões dos grandes navegadores, ou dos brilhantes Renascentistas, ou dos geniais  Iluministas, o que seria do atual desenvolvimento da civilização ocidental? Ora, tanto mais se expurgou a concepção da Idade das Trevas, mais a sociedade resgatou valores antropocêntricos greco-romanos, e tudo isso, em marchas e contramarchas, proporcionou avanços inimagináveis. Em contrapartida, podemos questionar: o que será da civilização ocidental se  de discutir as questões das minorias nos dias de hoje?        Portanto, é imperioso que se cultive a liberdade de fazer arte, pois ela é uma das poucas formas culturais lícitas de se promover a elevação da condição humana. Por isso, é preciso que o Estado conceda benefícios fiscais aos meios de comunicação (por exemplo, aos jornais, às revistas e às emissoras de audiovisual), de modo que seus funcionários desenvolvam textos, novelas ou documentários estimulando a tolerância cultural. Dessa forma, poderemos conscientizar a população, e, vez por outra, poderemos romper as correntes da Caverna de Platão para contemplar o sol, que nos cegará, mas que, no futuro, evitará históricos afogamentos ou incinerações.