Enviada em: 19/03/2018

Recentemente, a celeuma sobre os limites da arte ganhou destaque no Brasil, após episódios como o cancelamento da exposição "Queermuseu", a qual aconteceu devido aos diversos protestos feitos nas redes sociais. No entanto, o conceito de arte é bastante relativo, uma vez que refere-se à expressão da subjetividade humana. Dessa forma, não existem parâmetros para definir o que seria aceitável e agradável para todo o público.       A tentativa de limitar manifestações de arte significa censurá-las. E, de acordo com o inciso IX do artigo 5º da Constituição Federal, a expressão da atividade artística deve ser livre, independentemente de censura ou licença. Dessa forma, percebe-se que a mudança, na verdade, precisa ocorrer no modo como os brasileiros a encaram e apreciam, pois, muitas vezes, a sua essência não é compreendida e o direito à criação acaba sendo desrespeitado. Isso acontece porque, no Brasil, existe uma falta de diálogo acerca desse tema, o qual é pouco debatido até mesmo nas escolas. Logo, sua interpretação acaba reduzindo-se às percepções de belo e feio, inadequadamente.        Essa discussão acontece, também, porque falta a compreensão de que a arte não necessariamente precisa causar efeitos positivos. Como foi dito pelo alemão Friedrich Nietzsche, "temos a arte para não morrer da verdade", uma vez que esta pode ser apenas uma representação de uma realidade difícil de ser admitida. Assim, a arte é criada para provocar diversos tipos de sensações, propositalmente, sejam boas ou ruins. Ou seja, o objetivo da criação artística é provocar reflexões e, muitas vezes, impactar os indivíduos. Prova disso é a repercussão gerada pela Semana de Arte Moderna de 1922, a qual não foi bem aceita pela população e causou grandes polêmicas, mas, posteriormente, ganhou significado e importância ímpar para o Brasil e para o Modernismo.       Evidencia-se, portanto, ações socioestatais como fundamento para o fim da problemática relacionada à má interpretação das artes e ao desconforto que isso causa. Quanto às medidas do Estado, no que se refere ao Ministério da Educação, é imprescindível a ampliação dos debates e da atenção dada à disciplina "artes", da componente curricular, nas escolas; uma vez que esta não é explorada como deveria, sendo deixada em segundo plano e negligenciando o senso artístico dos estudantes. Já o Ministério da Cultura precisa agir possibilitando a ocorrência de exposições de arte por todo o Brasil, além de palestras sobre o seu verdadeiro sentido e objetivo. No entanto, é essencial a conscientização da Sociedade Civil, através dos meios midiáticos, para que a população entenda a necessidade da manutenção do direito criativo dos artistas e que não necessariamente estes concordam com o que está sendo representado, mas só acham importante a sua exposição.