"Que falta nessa cidade?... Verdade", são palavras de Gregório de Matos, importante nome do Barroco brasileiro, que se tornou amplamente conhecido em razão de suas poesias satíricas, carregadas de ironia e críticas sociais. Entretanto, apesar de suas obras terem sido produzidas durante o século XVII, ainda é possível perceber muitas de suas características, que lhe renderam o apelido "Boca do Inferno", enraizadas na cultura nacional. Nesse viés, tornam-se passíveis de debate os limites da liberdade de expressão, visto que muitos cidadãos se justificam nesse direito para propagar discursos opressores e usar a tecnologia como agente facilitador da disseminação. Em primeiro lugar, convém-se ressaltar o direito à livre manifestação como uma conquista popular após os vinte e um anos de censura em decorrência do Regime Militar. Contudo, a liberdade assegurada na Constituição Federal Brasileira, quando dissociada do respeito, causa danos à sociedade. Nesse âmbito, inserem-se as práticas que oprimem grupos sociais e culturas, como ocorrido no ano de 2015, quando a revista Charlie Hebdo fomentou a intolerância religiosa por meio de uma publicação preconceituosa. No entanto, apesar de o fato ter ocorrido em Paris, o desrespeito, ocultado pelo discurso da liberdade de expressão, não é exclusivo dessa parte do globo, uma vez que, em diversos países, a exemplo do Brasil, não há parâmetros que garantam a cordialidade na manifestação. Em segunda instância, ao passo em que discursos de ódio são justificados pelo direito constitucional, as tecnologias, como a internet, corroboram a disseminação destes, já que proporcionam a possibilidade do anonimato. Nesse contexto, pesquisas da Plan International Brasil indicam que, do total de manifestações pejorativas realizadas em ambientes virtuais, 82% são feitas anonimamente, de modo a demonstrar que a não identificação do autor contribui para a ocorrência de comentários que destoam do politicamente correto. Mediante o exposto, urge a adoção de medidas que solucionem esse impasse. Destarte, convém ao Ministério da Educação, em parceria com os canais televisivos, criar campanhas que suscitem a empatia entre os brasileiros e que informem à população acerca dos impactos gerados pelos comentários preconceituosos, a fim de estabelecer e propagar limites à liberdade de expressão, quando esta for desrespeitosa. Outrossim, cabe ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações criar um órgão responsável por fiscalizar comentários que difundam o ódio, identificar os autores e aplicar multas severas, como o fito de reduzir os insultos no ambiente virtual. Quem sabe, assim, as antíteses do contexto atual, tão comuns à literatura barroca, não sejam motivo para a ofensa e a satirização encobertas pela livre manifestação.