Enviada em: 06/09/2018

Na era das redes sociais, a bipolarização política e ideológica, há tanto tempo já existente, difundiu-se entre as camadas populares das sociedades ocidentais de maneira jamais antes vista. Tal difusão, contudo, não veio acompanhada dos requisitos mínimos necessários à prática do debate, meio primeiro pelo qual a política e a ideologia se efetivam. Essa defasagem dá ensejo à censura uma vez que, ao indivíduo que não é capaz de fundamentar as próprias ideias e manifestá-las de forma honesta, resta apenas querer calar tudo o que represente divergência.        Analogamente, seja na Ágora de Atenas, nas tribunas da Revolução Francesa ou no Facebook, não há como estabelecer limites para a liberdade de expressão sem que haja o risco de incorrer em censura. Dessa forma, a solução está em empenhar esforços para tornar a manifestação de ideias a mais produtiva, civilizada e límpida possível. Contudo, em nossos tempos de formação de dipolos ideológicos não há incentivos para o debate de qualidade, já que são os textos inflamados e repletos de opiniões sem embasamento que recebem as curtidas e são mais compartilhados, dando aos seus autores a glória da fama online momentânea.        Em contraste com o cenário atual, na metodologia de educação do Medievo a retórica constava como uma das Artes Liberais, as quais eram direcionadas aos nobres e homens livres em geral. Nesse sentido, muito além de se tratar apenas da habilidade de convencimento, a retórica era vista como a arte do aperfeiçoamento das ideias e do próprio conhecimento. O que vemos hoje com o fenômeno politicamente correto é justamente o oposto: discussões superficiais pela internet, entre adversários que passionalmente reproduzem discursos amplamente mimetizados, impulsionados pela ideologia que constitui suas crenças.        Urge, portanto, que nossa sociedade aprenda a fundamentar suas opiniões e eleve sua capacidade de expressá-las honesta e civilizadamente. Para isso, as escolas têm papel fundamental e, com o apoio de ONGs e do próprio Ministério da Educação, devem recuperar o ensino da retórica e da lógica. Dessa forma as próximas gerações estarão mais capacitadas a bem utilizar seu direito de livre expressão e a impedir que grupos fundamentalistas o reprimam.