A Constituição Cidadã de 1988 legitimou, após duas décadas de ditadura, a retomada dos direitos da população brasileira, que passou a valorizar mais do que nunca a autonomia do ser livre para pensar e agir. Hoje, tal euforia libertária vem sendo mitigada devido à intensa difusão do discurso politicamente correto. Desse modo, demanda-se um olhar incisivo quanto à busca do equilíbrio entre a liberdade de expressão e a manutenção de condutas morais do corpo social brasileiro. Em primeiro lugar, é preocupante a censura em massa que muitos indivíduos vem emitindo contra questões extremamente banais. Esses juízos de valor se manifestam sobretudo nas redes sociais e exemplificam o individualismo exacerbado que se propaga no mundo contemporâneo, assim como a necessidade constante de autoafirmação de uma imagem íntegra no meio virtual. Há, portanto, uma crescente problematização de questões irrisórias, as quais são, em muitos casos, levadas para o sistema judiciário, o qual já é extremamente saturado no Brasil. Em contrapartida, a total liberdade também não constitui a solução para o problema em análise. Segundo o sociólogo Émile Durkheim, tal condição levaria a um estado de anomia, no qual normas morais e sociais se tornam obsoletas. Nesse contexto, incitações sem fundamento e que realmente precisam de punição, como discursos de ódio, seriam socialmente aceitas. Assim, ao se tratar do binômio liberdade e seguridade social, torna-se impossível o pleno funcionamento de tais questões simultaneamente, fato alegado pelo também sociólogo Zygmunt Bauman. É necessário, portanto, buscar a maior consonância possível entre as liberdades individuais em prol do bem comum. Para isso, é essencial que a mídia, a escola e a família construam um ideário de respeito às diferenças, como também propaguem o uso do bom senso do discurso politicamente correto, evitando-se práticas intolerantes, assim como problematizações banais. Ademais, cabe ao corpo judiciário punir atos realmente nocivos nesse âmbito. Assim, se estabelecerá a harmonia social no Brasil.