Enviada em: 02/07/2018

"Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que veem, Cegos que, vendo, não veem". O excerto do romance modernista "Ensaio sobre a Cegueira" de José Saramago critica metaforicamente a alienação e o comportamento de uma sociedade que, paulatinamente, se torna invisual. Metáforas a parte, tal obra atemporal não foge da cegueira contemporânea, na qual o tecido social brasileiro não enxerga o problema do limite entre a estética e a saúde. Nessa óptica, devem ser analisadas as principais causas desse impasse.     A priori, vale ressaltar o crescimento exponencial de propagandas de belezas e procedimentos estéticos. Nesse contexto, os filósofos Adorno e Horkheimer, debateram na teoria proposta por eles acerca da falsa necessidade de consumo implanta no corpo social pelo sistema capitalista ligado ao psuedo-felicidade. Hodiernamente, a Indústria Estética disseminou que só seria feliz quem tivesse o "corpo perfeito". Por isso, a população perdeu a autonomia do pensamento, fica obcecada pela busca da beldade, fazendo até mesmo procedimentos de risco à saúde, e as clínicas lucram em cima dessa manipulação midiática.     Ademais, observa-se ainda, a herança histórico-cultural como causador do problema. Isso decore porque na Grécia Antiga os gregos valorizam apenas certos padrões de beleza, os homens musculosos e as mulheres ruivas tinham uma vida mais privilegiada por serem considerados sinônimo de beleza desejável. Analogamente a isso, e esfera social, então, por tender a incorporar as estruturas sociais que são impostas à sua realidade, conforme defendeu o sociólogo Pierre Bourdieu, naturalizou e reproduziu o pensamento da busca incansável da boniteza mais importante que a saúde e o bem-estar pessoal ao longo do tempo como algo cotidiano e passível de soluções. Todavia, tudo o que é socialmente construído pode ser naturalmente combatido.     Limite entre a estética e saúde, portanto, representa um impasse a ser combatido. Para tanto, em virtudes de as escolas serem instituições formadoras de opiniões, em parceria com o Ministério da Saúde, cabem a elas oferecerem debates semanalmente entre psicólogos e estudantes, sobre a aceitação e os procedimentos estéticos, demonstrando que não tem nenhum problema não se encaixar no "padrão de beleza", pois é difícil encontrar a verdadeira personalidade do indivíduo em um mundo tão concentrando na perfeição, quando na verdade é a imperfeição que define-o, com o fito dos alunos virarem futuros adultos que não sejam obcecados por cirurgiãs plásticas, além de debateram o controle  da mídia estética, com o apoio dos pais em casas policiando a televisão e conversando com seus filhos sobre isso para reforçar esta questão. Dessa maneira, talvez, a sociedade volte a enxergar novamente.