Enviada em: 11/10/2018

Brás Cubas, o defunto-autor de Machado de Assis, ao descrever Eugênia em suas “Memórias Póstumas”, revela-se indignado com o fato de a moça ser bonita, porém coxa. Dessa forma, apesar de a obra ter sido produzida há mais de um século, é possível perceber pelo relato machadiano que os padrões estéticos estão enraizados na cultura brasileira. Nesse viés, a busca constante pela beleza torna-se passível de debate, visto que essa ocasiona males à saúde mental e física dos indivíduos.        Primeiramente, convém ressaltar que, conforme elucida o filósofo Max Horkheimer, a mídia tem o poder de manipular a população. Nesse âmbito, ao associar o potencial de persuasão midiático à constante veiculação de modelos com corpos esculturais, muitas vezes modificados graficamente, em campanhas publicitárias, tem-se como resultado na sociedade a compulsão no que tange à busca por esses padrões e inatingíveis. Desse modo, muitos transtornos psicológicos são favorecidos nos cidadãos que não alcançam os parâmetros; prova disso são as estimativas da Organização Mundial da Saúde, de que a principal causa para o Transtorno Obsessivo Compulsivo está relacionada às referências de beleza impostas pela mídia, sendo que, no Brasil, são mais de quatro milhões de pessoas afetadas pela mazela.        Em segunda instância, se por um lado os padrões idealizados corroboram o aparecimento de transtornos neurológicos, por outro, podem causar prejuízos físicos aos cidadãos. Nessa vertente, segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgias Plásticas, no ano de 2014 foram realizados mais de 1,5 milhão de procedimentos cirúrgicos de cunho estético no país. Contudo, entre o total de procedimentos efetuados anualmente, 16% dos pacientes são vítimas de algum erro médico, sendo que, pelo menos uma pessoa morre por mês em processos de cirurgia plástica no Brasil, segundo a mesma fonte. Dessarte, é evidente que a busca desenfreada pela perfeição faz diversas vítimas e precisa ser combatida, para que os prejuízos à saúde nacional sejam reduzidos.        Urge, portanto, a adoção de medidas que solucionem esse impasse. Para tal, é necessário que o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária intensifique a fiscalização sobre as campanhas que possuam manipulação digital do corpo dos atores e que essas sejam vetadas, com o fito de reduzir a cobrança estética dos telespectadores. Outrossim, é conveniente que o Conselho Federal de Medicina vistorie a ação dos médicos do país e afastem da prática médica aqueles que cometerem erros graves, a fim de investigar as causas e reduzir a ocorrência. Quem sabe, assim, a concepção de beleza expressa desde o Realismo brasileiro não interfira negativamente na saúde dos cidadãos brasileiros.