Liberdade líquida É retratada no filme "O Show de Truman" a vida de um protagonista que desconhece a realidade em que se encontra: morando em uma cidade artificial, todas as ações de Truman são observadas e televisionadas por câmeras de forma que os futuros acontecimentos sejam manipulados pelos diretores e aqueles que o assistem. Apesar do caráter fictício da obra, a narrativa se aproxima fielmente da atual conjuntura da sociedade que, perante as tecnologias, convive com a falsa impressão de possuir liberdade. Sob ângulo socioeconômico, o avanço desenfreado do capitalismo foi acompanhado pelo fenômeno da globalização da Terceira Revolução Industrial; sendo possibilitada a conexão entre diversas partes do mundo através da internet, não tardou para que esse sistema - cujo objetivo é a geração de lucro - fosse incorporado à ela. Dessa forma, tornou-se inevitável a presença de anúncios publicitários nesse ambiente que induzem o indivíduo a uma única vontade: a de consumir. Se por um lado o controle de dados auxilia a identificar atos preconceituosos e criminosos, é mister reconhecer, também, os malefícios que tal manipulação causa. Afinal, ao expandir o comércio de informações, se infringe também o direito à liberdade garantido ao civil pela Constituição, além de sua privacidade. Ademais, a imposição de ideias e opiniões comandadas por determinados grupos para atender seus interesses resulta não só na polarização, como também na segregação da população - majoritariamente representada por jovens, que compõem 85% de presença no meio virtual. Declara-se, portanto, incontroversível que os indivíduos necessitam estar cientes da problemática para que ela seja combatida. Para tanto, é preciso a interferência de vários setores, a começar pela parceria do Governo Federal com o Ministério da Educação ao efetuar a melhoria da educação básica das escolas de redes públicas e privadas visando a formação do senso crítico dos alunos desde a infância. Além disso, devem ser abertos órgãos de fiscalização dos meios sociais para prevenir futuros abusos, em adição ao papel dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário de elaborar e garantir o cumprimento de leis que punam instituições que repassem informações sem a devida permissão para tal. Pois é somente através de uma reforma estrutural que se construirá um futuro que se contraponha ao conceito de John Locke de que "o homem nasce livre, mas por todo lugar se vê acorrentado".