Enviada em: 27/08/2018

Na obra "O Cortiço", o autor naturalista Aluísio de Azevedo retrata o cotidiano dos moradores do cortiço e as suas lutas diárias para sobreviver, por meio de uma abordagem determinista, que animaliza os personagens da história. Dessa forma, o livro aproxima-se da realidade dos moradores de rua do Brasil, mostrando que essa problemática persiste intrinsecamente ligada à falta de políticas públicas eficazes para ajudar esses cidadãos, em conjunto com a invisibilidade social sofrida por eles.       Ao analisar por um prisma histórico, verifica-se que  durante a época da República Velha houve a política do "bota-abaixo", introduzida em cidades como Rio de Janeiro, no qual ocorreu uma reforma urbana com o intuito de adequar o país ao modelo estrutural europeu, o que acarretou na demolição de moradias coletivas e populares, consequentemente deixando diversas pessoas desabrigadas. Sendo assim, esse acontecimento conecta-se com a atualidade por meio da política pública de demolição de prédios abandonados, noticiada pelo jornal UOL, após o desabamento do prédio em São Paulo, que vem gerando um aumento nos números de moradores de rua no país, em virtude da falta de atenção governamental em relação a esse imbróglio.      Por conseguinte, é indubitável que as chagas da atualidade são o tratamento excludente sofrido pelos moradores de rua no Brasil, que acabam vivenciando a problemática da invisibilidade social, com 40% desses cidadãos não possuindo documento de identificação, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ademais, é notório a ausência de políticas públicas adequadas, como no caso noticiado pelo G1, em que na Bahia, a pesquisa do projeto Axé mostra que cerca de 17 mil pessoas moram nas ruas de Salvador, o que contrapõe com os dados da administração municipal, que identificou apenas 3 mil pessoas. Além disso, não há uma pesquisa em âmbito federal, com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) não incluindo dados da quantidade de pessoas moradoras de ruas em seus apuramentos, logo, é vital que se siga a Constituição Federal de 1988, que prega que todos são iguais perante a lei, para resolver essa questão.     Portanto, para resolver os problemas apresentados no livro "O Cortiço" e seguir os ideais da Constituição, o Governo deve criar um projeto de cidadania que ajude na qualidade de vida dos moradores de rua, com a estatização e reforma de prédios abandonados, para que eles sirvam de moradia para esses cidadãos, além de bolsas trabalhistas, como forma de diminuir a invisibilidade social por meio do trabalho. Outrossim, é importante que a sociedade, através de protestos, cobre do Estado a realização de uma pesquisa do IBGE informando a quantidade de moradores de rua no Brasil, para que assim, o acesso dessa população à direitos básicos, como a documentação, seja garantido.