Enviada em: 23/08/2018

O escritor irlandês Oscar Wilde declarou que o descontentamento é o primeiro passo para o progresso. Tal perspectiva deve ser encaixada no que se refere à conduta moral da sociedade mediante à condição de vida dos moradores de rua no Brasil, em prol do estabelecimento de uma coletividade plural e inclusiva. Diante disso, é necessária a condenação de práticas intensificadoras dessa problemática no país, seja pelo combate ao precário saber intelectual dos indivíduos, seja pelo combate ao descaso popular em relação à vivência plena de tal grupo social.       Em um primeiro momento, cabe analisar o distúrbio da população sem teto no Brasil associado à lógica capitalista contemporânea, o toyotismo. Esse modelo de produção, o qual é aplicado nas relações laborais brasileiras, prevê maior qualificação dos trabalhadores envolvidos e, paralelo a isso, objetiva maior capacidade multifuncional produtiva da mão de obra. Todavia, apesar da consolidação de uma estética laboral que urge elevado conhecimento acerca das etapas produtivas, nota-se a permanência das disparidades instrucionais quanto à educação básica e profissional coletiva, o que predispõe, nessa conjuntura nacional de segregação socioeducativa, o aumento do número de pessoas com déficit habitacional, marginalizadas economicamente. Destarte, enquanto houver a persistência da elitização instrucional brasileira, fortalecer-se-á a tendência à insuficiência residencial no país.       Outrossim, é inquestionável que a visão do corpo social mediante ao quadro dos moradores de rua contribui para a continuidade de tal problemática no Brasil. Omissão em face de atos violentos contra essa comunidade, medo quanto à convivência diária, ausência de medidas ressocializadoras em favor dessas pessoas - tais comportamentos vinculam a sociedade ao exercício do conceito da "banalidade do mal", proposto pela filósofa Hannah Arendt, que embasa-se na trivialização de ações opressoras. Logo, a negligência popular perante à manutenção da integridade físico-psíquica dessa minoria social evidencia, infelizmente, o caráter excludente e individualista intrínseco à moralidade brasileira.       É imprescindível, pois, a atuação de empresas privadas, em busca de reconhecimento social, na geração de empregos direcionados à comunidade em abandono domiciliar, por intermédio do oferecimento de cursos profissionalizantes e, em alguns casos, do oferecimento de materiais didáticos para a conclusão dos estudos prévios, a fim da obtenção de um novo contingente de mão de obra qualificada. Já as ONGs especializadas no auxílio de grupos carentes devem proporcioná-los, além da oferta de moradia, condições de reinserção social, por meio do tratamento psicológico contínuo, com o objetivo de ampará-los na superação de traumas e vícios oriundos da vida nas ruas. Assim, no que tange à ótica de Wilde, poderá ocorrer, enfim, o desenvolvimento da coletividade brasileira.