Em sua obra “Os estabelecidos e os outsiders”, o sociólogo Norbert Elias identifica – no contexto urbano inglês – a existência da manutenção de relações de poderes entre grupos sociais, baseadas nas diferenças de posses e status social. No contexto atual brasileiro, nota-se essa danosa relação ao observar a situação dos moradores de rua, minoria vítima constante de preconceitos e descaso, o que, por sua vez, agrava sua condição de exclusão. Sob esse viés, é necessário refletir sobre as dimensões políticas e socioeducacionais envolvidas nesse cenário, e, também, pensar soluções urgentes para ele. A ausência de políticas públicas voltadas à população em situação de rua, a princípio, negligencia os direitos dessa e dificulta o acesso a oportunidades de acesso a moradia. A respeito disso, um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que o Brasil possui mais de cem mil moradores de rua. Além disso, dados do Censo de 2010 expõe o fato de haver pelo menos seis milhões de imóveis vazios no país. Percebe-se, então, a ineficiência do poder público em garantir um fim social a esses endereços sem uso, ação essa determinada pela Constituição Federal de 1988. Concomitantemente a essa análise política, ao afirmar que um grupo estigmatizado é aquele inabilitado para aceitação social plena, o sociólogo Erving Goffman corrobora a necessidade de eixos como a consciência social e solidária serem desenvolvidos desde a infância nos indivíduos. Contudo, a educação brasileira falha na desconstrução da imagem pejorativa dos desabrigados, agravando, com isso, a discriminação sofrida por eles. Assim, a invisibilidade social desse contingente permanece inalterada. Evidenciam-se, portanto, sérias questões relacionadas aos moradores de rua. Para contorna-las, as Secretarias Municipais de Habitações, respaldadas legalmente, devem realizar, por meio do cadastro desses indivíduos, um mutirão de fomento à moradia, que realocaria famílias a prédios abandonados, a fim de garantir um lar a essas pessoas. O Ministério da educação, por seu turno, precisa promover campanhas educacionais, por intermédio de pedagogos e assistentes sociais, que debatam a importância do respeito à todas as pessoas e suas situações socioeconômicas, com o fito de diminuir os estigmas sociais. Espera-se, com tais ações, diminuir a situação de exclusão dos sem teto.