Enviada em: 21/08/2019

Durante a segunda fase do Romantismo, no século XIX, jovens literários brasileiros, a exemplo, Álvares de Azevedo, demonstravam em suas obras uma vida boêmia, "regada" ao uso de drogas e vícios constantes. Nesse contexto, para além da ficção, a abordagem realizada pelos autores pode ser relacionada a uma característica marcante do tecido social hodierno, o abuso de álcool, uma das faces mais perversas de uma sociedade em desenvolvimento, o que se deve a fatores como coercitividade do meio social e estrutura familiar frequentemente frágil.      Convém analisar, de início, que a manutenção e a intensificação do consumo de álcool está intimamente relacionada à coerção social. Isso porque, de acordo com o sociólogo Max Weber, o sujeito toma suas atitudes e afirma seu pensamento determinando o próximo como parâmetro. Nesse sentido, percebe-se que o fenômeno evidenciado pelo pensador se materializa quando, em decorrência de seu papel social, principalmente, entre os adolescentes, o álcool se configura como um "rito de passagem" para a vida adulta, bem como se converte em uma forma de aceitação a determinado grupo. Assim, é inaceitável o condicionamento de indivíduos ao consumo de substâncias nocivas em virtude de hábitos e valores sociais de uma época.        De outra parte, é válido ressaltar, também, que a falta de desvelo familiar constitui-se como um dos pilares desse cenário problemático. Com efeito, segundo o filósofo Arthur Schopenhauer, os limites do campo de visão de um indivíduo determinam seu entendimento a respeito do mundo. De maneira análoga a esse pensamento, o indivíduo, ao estar imerso em um panorama familiar, por vezes, acrítico e de pouco apreço às questões de abuso de substâncias psicoativas, acaba naturalizando essa visão reducionista à respeito das consequências do álcool, o que, de fato, dá margem para o seu consumo sem precedentes. Dessa forma, é factível que o desamparo do seio familiar potencializa a inadimplência dos indivíduos quanto à sua saúde, acarretando problemas como acidentes de trânsito, crimes violentos e relações sexuais sem proteção.       Para que se reverta esse cenário problemático, portanto, é imprescindível a atuação do Ministério da Saúde na efetivação de um projeto social que induza a diminuição do uso de bebidas alcoólicas na população. Isso pode ser realizado por meio da criação de campanhas publicitárias periódicas em canais de TV aberta, nas quais profissionais da saúde debatem de maneira breve e explicativa os riscos do consumo negligente de álcool, a fim de explorar a criticidade do tecido social e estimular a mudança comportamental quanto ao uso dessas bebidas. Assim, poder-se-á transformar uma sociedade desenvolvida socialmente, de modo a restringir a boêmia e os vícios constantes a estilos literários.