Enviada em: 25/08/2019

Durante a segunda fase do Romantismo no século XXI, jovens escritores, a exemplo, Álvares de Azevedo, retratavam em suas obras uma vida boêmia, “regada” ao uso de drogas e vícios constantes. Não obstante, para além da ficção, tal literatura assemelha-se ao panorama expressivo do abuso de álcool no Brasil, uma das realidades mais desfavoráveis no desenvolvimento de uma sociedade, o que se deve a fatores como a coercitividade do tecido social e a escassez de políticas públicas efetivas.      É importante considerar, de início, a influência de uma cultura de valorização de bebidas alcoólicas como alicerce dos agravos desse cenário. Isso porque, de acordo com a sociologia durkheimiana, o indivíduo, mais que formador da sociedade, é um produto dela. Sob esse prisma, o sujeito, acometido frequentemente pela exposição a produtos alcoólicos e pela associação desses a uma maior visibilidade social, acaba por naturalizar tais concepções impostas, o que, de fato, respalda no encorajamento na ingestão de substâncias psicoativas, por vezes, de maneira excessiva. Assim, é inconcebível que valores normatizados na sociedade determinem hábitos desequilibrados de consumo expressivo de substâncias nocivas.       Outrossim, é factível que a desestruturação de políticas sociais caracteriza-se como campo fértil para o abuso de álcool. De fato, o Brasil está inserido em um contexto de "Guerra às drogas e ao álcool", o que acaba por intensificar esse problema por não incluir medidas sociais que fomentem a mediação entre o consumo de bebidas e a mentalidade crítica da população. Essa conjuntura, consoante aos ideais do filósofo Jurgen Habermas, configura-se uma total violação ao agir comunicativo, uma vez que o Poder Público, ao concentrar suas ações em medidas isoladas, como uso de bafómetros e penitências mais rigorosas, tangencia uma compreensão dialógica à sociedade no que se refere aos empecilhos do alcoolismo. Com efeito, é perceptível que a associação dos indivíduos a vícios constantes está intrinsecamente atrelada à falta de medidas sociais paliativas.       É imperioso, portanto, mecanismos energéticos no embate desse contexto. Assim, cabe ao Ministério da Saúde priorizar a efetivação de projetos sociais em consonância com a diminuição do uso de bebidas alcoólicas. Isso pode ser concretizado por meio de associações com universidades que contemplam áreas da saúde, de modo que a partir de campanhas periódicas nas escolas e canais de TV aberta, com profissionais qualificados, possa estabelecer debates holísticos sobre os riscos do consumo negligente do álcool. Tal projeto educativo teria por finalidade explorar , gradativamente, a criticidade do tecido social e estimular comportamentos destoantes com as realidades boemias que remetem a estilos literários.