Enviada em: 27/07/2018

''Ó abre alas que eu quero passar, eu sou da lira não posso negar''. A clássica marchinha de Chiquinha Gonzaga é uma das ''encarregadas'' de manter a tradição e unir gerações em festas numa das mais conhecidas manifestações culturais nacionais : o carnaval. É inegável que tal festejo de origem colonial tenha enorme importância social e econômica para o Brasil, no entanto, por debaixo de suas fantasias esconde estragos e problemas de 5 dias de libertinagem escancarada e sem controle.           A simbologia do carnaval para o mundo remete a uma transgressão das lógicas cotidianas e uma revolução dos modos de estar no que é público, como num ''estado de natureza'' da pré-sociedade hobbesiana. Essa tradição traz uma imagem pejorativa de uma terra de promiscuidade em decorrência das bebedeiras sem controle, dos estragos nas cidades e do ''caos'' que surge em troca da diversão. A imagem, frequentemente, sexualizada de mulheres causa, por vezes, um incentivo machista a abusos e as propagandas de bebidas como fonte de felicidade, acidentes e confusões. No carnaval de de 2017, por exemplo, o ''Disque 180'' registrou um aumento de 88% no número de denúncias de violência sexual contra mulheres, sendo essa festa,  por esse ângulo, um retrocesso social danoso ao país.        Além de suas consequências diretas, esse festejo também esconde problemas sociais já existentes. No romantismo, era uma prática comum a ''fuga da realidade'' pela insatisfação com o mundo. De maneira análoga, no século XXI, a sociedade esquece sua vida real e seus problemas por cinco dias e entra na festa, o que permite a perpetuação de situações incorretas. O carnaval de Salvador expressa bem essa contradição: enquanto arrecada-se cerca de 176 milhões de dólares nessa época, não exclui-se as mazelas e desigualdades, nem tampouco as constantes discriminações em blocos elitistas e as privações de camarotes como forma de segregação socioeconômica. Isto é, tal festa prioriza turistas e uma minoria abastada, aumentando certas discrepâncias sociais que passam despercebidas pelo folião enquanto esse diverte em sua ''realidade alternativa''.        Dessarte, medidas são necessárias para que o carnaval se torne uma simbologia positiva da nacionalidade brasileira e um momento de real comemoração. Portanto, faz-se fundamental que o Ministério das Cidades determine uma porcentagem do lucro dessa festa que deva ser reinvestida para a população em saúde, educação e segurança, tornando-a um meio de desenvolvimento do país para além dos cinco dias. Outrossim, o Ministério da Cultura, como propiciador desse direito fundamental, deve coibir a propagação midiática da sexualização da mulher e da diversão sem limites, a fim de evitar o incentivo ao retrocesso social. Pois sendo, consoante Habermas, '' a sociedade é dependente da crítica a suas próprias tradições'', é preciso que essa altere a imagem pejorativa dessa festa nacional.