Enviada em: 27/05/2019

Conforme o pensador Émile Durkheim, a sociedade assemelha-se a um corpo biológico por apresentar, assim como esse, partes que interagem entre si. Com isso, para que esse organismo seja igualitário e coeso, as pessoas devem viver de forma harmônica. Essa visão, contudo, não ocorre no Brasil, posto que o "bullying" é uma forma de violência recorrente na sociedade hodierna. Tal violência é fruto, sobretudo, do despreparo civil e da maneira cíclica em que esse abuso é estabelecido. Assim, faz-se necessário analisar o que impede o combate a esse mal no país.    Em primeiro plano, o enfrentamento ao "bullying" é dificultado em função da naturalização desse tipo de violência, uma vez que há uma disfunção na sociedade brasileira em reconhecê-lo como abuso e em perpetuar preconceitos. Segundo o teórico francês Pierre Bourdieu, em "Habitus", a estrutura de uma sociedade está vinculada ao processo de socialização. Dessa forma, aquilo que se constrói em coletividade reverbera ao longo de gerações. Analogamente, uma sociedade concebida em preconceitos (sociais, raciais ou religiosos) tem em seu âmago a perpetuação de violências, as quais atingem a população desde a infância. Prova disso é o "bullying" ocorrer, mormente, em escolas tupiniquins, onde crianças reproduzem preconceitos aprendidos, possivelmente, em suas casas.     Por conseguinte, esse tipo de violência atinge a individualidade das pessoas, de forma a dilacerar seus sentimentos e seu emocional. Isso porque, consoante o modelo biopsicossocial, o ser humano é o resultado de suas vivências biológicas, sociais e psicológicas, as quais estão, todas, em conexão. Nesse sentido, quando o abuso é estabelecido, ele deve ocasionar, na vítima, problemas emocionais ou físicos, e esses, impasses sociais. Assim, o ataque, em Suzano, à escola Raul Brasil, onde jovens mataram alunos e funcionários por vingança, demonstra que o "bullying" se arquiteta de forma cíclica, uma vez que é impulsionador de outras formas de violência e do próprio terror.    Portanto, o combate ao "bullying" deve começar desde o preparo da sociedade civil à atenção crucial às suas drásticas consequências. Para que se reverta esse situação alarmante, cabe ao Ministério da Educação, mediante parceria com plataformas digitais como o Google Play, desenvolver um aplicativo, para todas as escolas do país, onde o estudante possa relatar casos de abuso diretamente aos grupos de apoio psicopedagógico das instituições escolares. Essa ação tem o fito de estimular no jovem a denúncia e a procura por ajuda familiar e profissional. Paralelamente, as Secretarias de Educação devem, através de Feiras do Conhecimento - as quais levam as aulas às ruas e comunidades - alertar a população sobre o "bullying" como forma enraizada e cíclica de violência. Quiçá, assim, tal hiato reverter-se-á, fazendo "jus", deveras, à sociedade proposta por Durkheim.