Enviada em: 25/05/2018

¨Os índios principais têm mais de uma mulher, e o que mais mulheres tem, se tem por mais honrado e estimado¨. Esse fragmento é parte do livro Tratado Descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa, e retrata a vida poligâmica dos indígenas antes da chegada dos portugueses,que, ao desembarcarem nessas terras, impuseram aos nativos um conceito europeu e cristão de família perdurante até então. Recentemente, após um projeto na Câmara dos Deputados reconhecer como estirpe somente a nuclear, o tema passou a ser debate social. Tais debates revelaram o quão dinâmica é a instituição familiar e a impossibilidade de enquadrar a palavra¨família¨ em conceitos ínfimos e limitantes.      Exposto isso, averigua-se que um dos grandes problemas da sociedade brasileira em relação a essa questão consiste no olhar anacrônico que a mesma lança sobre a instituição familiar. Há uma resistência social em aceitar que a expressão ¨estirpe¨ é moldável conforme a época, e existe ainda uma busca em resgatar o padrão de família medieval. Padrão esse formado majoritariamente por núcleos unidos com base em interesses econômicos, ou imposição religiosa. Nessa conjuntura, diferente do século V, no mundo pós moderno as relações de união estão ligadas em maior número a afetos, é o que mostra um levantamento realizado em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia. Segundo a pesquisa, houve uma redução de 7,2% dos casamentos religiosos entre os anos 2000 e 2010, e a união de 60 mil casais homoafetivos só em 2010.     Nesse contexto, está surgindo gradualmente, devido à inserção da mulher no mercado de trabalho, quebra de tabus, aos movimentos que pregam o amor livre e a instituição do divórcio em 1977,  uma pluralidade familiar no Brasil que não admite definições limitantes. Existem núcleos monogâmicos, homoafetivos, matriarcais, dentre outros. O importante é o direito à liberdade de cada indivíduo , que ,infelizmente, ainda é negligenciado por causa do preconceito social e institucional, como o da banca Boi,Bíblia e Bala(BBB), no Congresso Nacional, ao querer padronizar família, vocábulo singular mas de um sentido plural.     Logo, para que a resistência dos cidadãos brasileiros em aceitar as novas configurações de estirpe seja atenuada, é imprescindível que o Ministério da Cultura, mediante verbas do Governo Federal, promova campanhas em mídias sociais. Essas campanhas podem ser feitas por meio de músicas que propaguem a validade de qualquer forma de amor e de documentários que mostrem as transformações sofridas ao longo do tempo na instituição familiar. Cabe também à mídia televisiva, radiofônica e social divulgar os projetos de lei propostos, a fim de que as pessoas sejam informadas e conscientizadas sobre o que será feito para poderem votar, e impossibilitar que decisões sejam tomados por políticos.