Enviada em: 26/08/2017

"João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém." O poema de Carlos Drummond de Andrade, denunciou algo comum em sua época que era o casamento não por amor, mas por arranjos familiares ou por interesse. Hoje, a configuração das novas famílias tem seu alicerce justamente no amor. O casamento passou a ser visto com novas perspectivas. A Revolução Francesa implantou nas sociedades um ideal de liberdade pautado sobretudo na satisfação própria, com isso, a vida conjugal e as relações humanas enfrentaram inúmeras alterações.       Recentemente o projeto de lei que cria o Estatuto da Família colocou em pauta a discussão a respeito do conceito de família. Afinal, o que é família hoje? Segundo o Senado "é a união estável entre duas pessoas, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família." Desde a segunda metade do século XX, o conceito de família vem passando por mudanças, o grupo familiar passou do singular para o plural. Antes, era constituída por homem, mulheres e filhos, hoje, as configurações são múltiplas: duas mães, dois pais, avós e netos, enteados, filhos adotivos. Apesar das mudanças, o conservadorismo ainda é latente na sociedade civil. Por trás do famoso discurso "respeito, mas não acho normal", perpetua-se o preconceito.      É importante ressaltar que não foram as famílias que provocaram mudanças na sociedade, esta é que determinou mudanças na família. O surgimento da pílula anticoncepcional trouxe liberdade para as mulheres e autonomia de decidir quando ter filhos. Sua inserção no mercado de trabalho e função como provedora dos lares trouxe uma maior representatividade na tomada de decisões. Além disso, a aprovação do lei do divórcio na década de 70 deu a liberdade de livrar-se de um casamento infeliz. Segundo Carlos Ayres Brito, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), em relação ao casamento homoafetivo relatou que "a ausência de lei não é a ausência de direito, até porque o direito é maior que a lei." Ou seja, a concepção de família não é o Estado que dá.      Portanto, fica claro que o Estado deve proteger a família, mas não legislar sobre o seu controle. A escola, como instituição socializadora, deve promover palestras buscando naturalizar as novas faces familiares, promovendo o respeito e a integração substituindo "dia das mães" e "dia dos pais" por "dia da família". O Poder Legislativo deve criar leis punitivas para casos de intolerância. As empresas devem estender o direito a "licença maternidade" ao homem, garantido a isonomia. Afinal, hoje o poema de Drummond pode ser assim reescrito: João amava João que amava Maria que amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Lili que não amava ninguém.