Enviada em: 15/10/2017

Conforme defendeu o filósofo alemão Friedrich Hegel, a história é dinâmica e as verdades a acompanham. Sob essa conjectura, é factível afirmar que o processo de desenvolvimento da sociedade ocorreu concomitante às mudanças nos paradigmas familiares, os quais, hodiernamente, carecem de maior legitimidade pelos indivíduos. Neste contexto, torna-se indubitável a necessidade de modificar este cenário - seja para haver maior reconhecimento dos atuais modelos de família, seja para desconstruir a cultura do preconceito presenciada nessa questão social.      Em primeiro lugar, deve-se pontuar as raízes históricas de tal problemática. Na Idade Média, a Igreja Católica, a qual possuía considerável influência na sociedade, determinou o modelo "correto" de organização familiar - o mononuclear. A partir disso, por os indivíduos possuírem a tendência de incorporar padrões sociais ao longo do tempo - como analisou Pierre Bourdieu -, este arquétipo foi naturalizado pela população no decorrer do processo histórico. Por conseguinte, são vistas, no contexto atual, diversas formas de inaceitabilidade de modelos como o homoafetivo, o pluriparental ou o informal, ora em casos de violência física ou verbal contra as pessoas constituintes dessas organizações, ora nas assimetrias de oportunidade no mercado de trabalho - o que compromete a isonomia prevista pela Constituição.    Ademais, é preciso salientar a forma como tal normatização acarreta dificuldades de exercer direitos em um Estado democrático. Em nível social, tornam-se inexequíveis o direito à liberdade de expressão, assim como à dignidade, em um cenário que presenciam práticas de bullying nas escolas contra filhos de pais homossexuais, ou quaisquer outras formas de discriminação. No âmbito político, esta precária legitimidade ocasiona uma morosidade para a realização de alterações na legislação que visem ao alargamento do reconhecimento institucional aos demais arquétipos familiares - como o pluriparental -, o que reafirma a presença de obstáculos para sustentar a democracia.     Tornam-se prementes, portanto, mediações para reverter esse quadro social. Para tal fim, o Ministério da Educação, aliado às unidades de ensino, deve adotar o modelo de "escola cidadã" - proposta por Paulo Freire -, abrindo debates nas aulas de Sociologia e realizando palestras sobre a pluralidade de organizações familiares, para romper com o padrão mononuclear. Outrossim, as ações midiáticas devem ressaltar, em programas de discussão e em telenovelas, as atuais configurações de família, para entrar em conformidade com a dinamicidade das verdades presumidas por Hegel.