Enviada em: 26/10/2017

O personagem Policarpo Quaresma da obra de Lima Barreto, sonhava em transformar o Brasil em um país melhor para todos, idealizava-o sem problemas sociais, econômicos ou ambientais. Contudo, ao observar o cenário contemporâneo do país, singularmente as novas configurações familiares, torna-se possível perceber o preconceito e a desinformação que envolve o assunto, figurando a necessidade de intervenções que considerem aspectos civis e políticos.      Decerto, o Brasil tem se mostrado mais tolerante frente às novas ordens sexuais — seja a orientação ou a opção de gênero do indivíduo —. Todavia, ao analisar a situação por um prisma estritamente social, torna-se transparente a visão patriarcal que cerca um grande percentual de cidadãos, os quais mantêm como conceito de família a união estável entre um homem e uma mulher biológicos. Por subsequência, indivíduos que fogem desse padrão, tais como casais homoafetivos ou pais solteiros, são exclusos. Assim, a desinformação e o preconceito têm estimulado a intolerância à moldes que fogem do patriarcalismo originado nos séculos anteriores.         Por conseguinte, a violência tem sido produto desse culto ao arcaísmo. Nessa perspectiva, famílias que fogem do modelo tradicional têm sido alvos de injúria verbal ou física, sem que nenhuma lei as protejam. Mediante o elencado, transfigura-se explicita a visão de Quaresma como uma utopia que ainda possui um grande caminho a percorrer para que os desafios que circundam os rearranjos das famílias tupiniquins sejam vencidos.        Cabe ao MEC, portanto, realizar campanhas escolares periódicas nas escolas públicas e privadas, e realizar parcerias com o sistema midiático para o assunto seja abordado, de modo que o maior número de indivíduos seja instruído sobre o assunto e estimulado a conviver com a diversidade. Outra inciativa plausível, sobretudo, é a criação de uma lei pelo Poder Federal que criminalize preconceitos ou ofensas às famílias que fogem do tradicionalismo, no intuito de posicionar o Brasil frente às novas configurações familiares e assegurar a proteção dos integrantes desses laços modernos. Ademais, ainda pode ser considerada a criação de uma ouvidoria online gratuita realizada pelo Ministério das Comunicações, com apoio psicológico profissional às vítimas da intolerância do rearranjo familiar, a fim de ampara-las e precaver distúrbios emocionais causados pelo conflito. Nesse contexto, é imprescindível uma atuação conjunta para que a visão utópica de Policarpo Quaresma torne-se uma realidade brasileira.