Enviada em: 17/08/2017

É incontrovertível a existência de faixas saudáveis tanto do peso, quanto da prática de exercícios físicos para cada indivíduo. Não obstante, a refração imagética executada pelos grandes veículos de mídia faz com que, continuadamente, posturas maquiavélicas sejam adotadas de modo que a busca por um padrão estético, por si só, justifique abdicar da saúde. Destarte, como fenômeno hodierno, são evidenciados transtornos de autoimagem que, geralmente, desaguam em má alimentação e doenças.      No desenrolar da existência humana, por muito tempo, a forma do corpo esteve intrinsecamente ligada as funções que os indivíduos executavam na sociedade, sendo, dessa forma, voltada às necessidades coletivas. De forma disruptiva, a contemporaneidade apresenta o desligamento formal dessas exigências. Todavia, sob a ótica marxiana, tais obrigações são primaveris, hoje, no campo das vaidades e das práticas narcisistas ancoradas pelas indústrias vestiária, farmacêutica e alimentícia. A primeira, ao ditar os padrões de beleza e de vestimentas, conclama as duas últimas para que juntas tornem os seus ditames inalcançáveis. Nessa conjuntura, enquanto são produzidos alimentos cada vez mais apelativos, calóricos e não orgânicos, são propagandeados remédios e dietas milagrosas que prometem moldar a constituição corpórea com o mínimo de esforço possível.      Presente também na literatura, o culto à forma, especialmente no parnasianismo, foi criticado por poetas que preteriam o conteúdo artístico em prol da estética, como Manuel Bandeira em 'Os Sapos'. Tal postura esteticista assume fora da literatura, hoje, caráter destrutivo da heterogeneidade, e se perpetua tanto nos distúrbios de autoimagem - anorexia, vigorexia e bulimia -, quanto nos tutorias sobre dietas radicais, no consumo de anabolizantes e até em certas intervenções cirúrgicas. Essa situação ilustra, de modo latente, a realidade preocupante da sociedade moderna: a busca incessante pelo corpo perfeito, enquanto a saúde e a formação de valores assumem posições sociais secundárias.   Como já disse Adorno, sociólogo que estudou a Indústria Cultural, a mídia cria certos estereótipos que tiram a liberdade de pensamento dos espectadores, forçando imagens, muitas vezes errôneas, em suas mentes. Portanto, sob o enfoque adorniano e em face dos argumentos supracitados, é mister munir a sociedade brasileira de conhecimentos acerca de educação alimentar e física, tornando-os conscientes de como hábitos alimentares saudáveis, associados a prática, sem exageros, de atividades físicas, traz benefícios significativos a saúde holística; desse modo, poderão ser mitigados os casos de indivíduos reféns da lógica consumista das grandes indústrias, que colocam em cheque a saúde da população. A execução dessas medidas deve caber aos Ministérios da Educação e das Comunicações, por meio de palestras nas escolas e centros públicos, além de campanhas publicitárias na tevê e internet.