Enviada em: 20/08/2017

As formas, as cores, os conteúdos.    A busca desenfreada pela perfeição estético-corporal na atualidade cresceu de forma vertiginosa. Diacronicamente, desde a antiguidade grega clássica, o corpo atlético, em primeira instância o masculino, era reverenciado e tido como padrão. Este pensamento perdurou ao longo do tempo, abrangeu também mulheres e influenciou diretamente a sociedade brasileira atual. Deste modo, a procura desmedida para corresponder a tais modelos têm alicerce em problemas culturais e sociais.   Ao analisar-se, em primeiro lugar, a maneira como a imagem corpórea se constituiu na contemporaneidade percebem-se distorções em conceitos como bem-estar individual e, principalmente, auto-estima. Estas modelos modificados são reforçados e disseminados pelo grande número de revistas que visam, aparentemente, a boa forma, bem como pela padronização estética vendida pela grande mídia, através de propagandas, e pela indústria da moda. Com isso, tal situação corrobora não apenas para o aumento de casos de distúrbios alimentares como bulimia e anorexia como também para o alarmante número de intervenções cirúrgicas com propósito estético chegando a mais de 1,5 milhão de cirurgias plásticas ao ano, segundo informações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.    Ademais, a heterogeneidade é a marca mais expressiva da complexa formação social brasileira. No entanto, a massiva busca por uma uniformidade estética contribuiu para uma das maiores mazelas atuais: o racismo. Nesse sentido, as diferentes colorações de pele - negra, amarela, parda -, tornam-se alvo da tentativa obstinada de construir-se um padrão utópico e idealizado de cor perfeita, por exemplo, pelo conceito de Eugenia ou embranquecimento de uma população. A exemplo disso, Getúlio Vargas, durante a ditadura do Estado Novo se utilizou dessas teorias na tentativa de padronizar a cor da população brasileira, altamente miscigenada, o que deixou resquício até os dias atuais.   Nesta perspectiva, portanto, a incessante busca por um padrão de corpo ideal, seja em forma ou em cor, tem causas culturais e sociais. Assim, deve-se discutir em escolas e nas ruas, através de campanhas sócio-educacionais aplicadas por ONGs e entidades sociais, a importância de se reconhecer e exaltar as diferenças estéticas existentes entre as pessoas e a multiplicidade de formas por elas apresentadas. Em consonância, a sociedade civil e os professores, orientados por medidas governamentais e do Ministério da Educação como palestras e ciclos que integrem a família e as escolas, devem ter por objetivo promover debates sobre o racismo e como ele afeta negativamente o auto-conhecimento sobre o  corpo, reafirmando o caráter multirracial formador do Brasil.