Enviada em: 20/07/2017

Descobrindo os descobertos Em um dos trechos mais conhecidos de sua carta ao rei lusitano, Pero Vaz de Caminha disse: "Nem se preocupam em cobrir ou deixar de cobrir suas vergonhas mais do que se preocupariam em mostrar o rosto". A frase demonstra, dentro da perspectiva do europeu, o choque cultural com o habitante natural em relação à seu estado de nudez, na qual logo seria justificado por uma inocência e atraso civilizatório. A visão do índio brasileiro, atualmente, ainda manifesta-se por preceitos etnocêntricos e, apesar de seu pioneirismo, lutam por espaço e direitos. Após cinco séculos do primeiro encontro, o autóctone brasileiro é descrito de maneira plana e uniforme assim como descreveram os colonizadores. De acordo com o censo de 2010 do IBGE, existem 305 etnias indígenas no Brasil, das quais falam 274 idiomas. Entretanto, a imagem romantizada é predominante entre a população, que tiveram sua bagagem cultural a esse assunto construído através das mídias, nas quais o índio sempre esteve retratado como um ser selvagem. Com isso, a estereotipação dessa personagem traz como consequência atitudes intolerantes, sendo colocado como intruso ou deslocado socialmente. Ainda neste contexto de inversão de valores, o aspecto político também preocupa. Desde a Constituição de 88, a manifestação cultural indígena e seus territórios foram assegurados. Porém, PEC's e projetos de leis defendidos por parlamentares de bancada ruralista buscam, motivados por interesses industriais, agropecuários e minerador, explorar áreas demarcadas. Assim, ideologicamente mal interpretado e físicamente ameaçado, o aborígene brasileiro vê sua representação inexistente. É evidente, portanto, a necessidade de buscar uma melhor compreensão do indígena e zelar para que seus direitos não sejam violados. Para isso, as escolas podem trabalhar desde a fase infantil a verdadeira face desses povos, convidando-os para ministrar palestras sobre o assunto e ainda elaborar de maneira mais didática as comemorações do dia do índio, levando informações além de fantasias. Ademais, é necessário a fiscalização, por parte do setor público e da população, de propostas apresentadas em prol de evitar promulgações de leis que sobressaiam o individual sobre o social. Dessa forma, será possível cobrir a vergonha desse descaso que perdura séculos.