Enviada em: 15/10/2018

Paulo Goulart, grande ator brasileiro já falecido, encerrou um de seus poemas com a seguinte frase: “(...) para os amigos tudo; para os outros, justiça.” Infelizmente, essa máxima não pode ser aplicada aos brasileiros, pois justiça no Brasil não é para os outros; é para os “nossos”. Os prolíferos escândalos de corrupção refletem mais que um problema institucionalizado, isto é, evidenciam uma cultura de desonestidade no cerne de nossa sociedade e um sentimento de autoimagem negativo.    A priori, um exemplo de que nossas relações afetivas valem mais que princípios éticos pode ser encontrado na obra A Casa e a Rua, do sociólogo Roberto DaMatta. Segundo o autor, o sentimento de grupo prevalece sempre que há um conflito de interesses com quem não pertence ao mesmo círculo familiar ou de amizade. Ele ilustra isso: nos Estados Unidos um general e um soldado esperam na mesma fila a sua vez, porém no Brasil basta termos um conhecido mais a frente para rompermos a ordem de chegada. Portanto, trata-se de algo cultural.    Além disso, por ter sido colônia de Portugal por três séculos, o Brasil construiu sua identidade como nação tardiamente, e ficou marcado como um país de valores ruins por ter uma sociedade mestiça, tudo isso fruto das ideias do darwinismo social, em voga no século XX. Ou seja, o próprio brasileiro não costuma se vir positivamente, sentimento cunhado pelo escritor e jornalista Nelson Rodrigues como “síndrome do vira-lata".    Destarte, não podemos ser melhores se não nos enxergarmos melhor. Faz-se necessário, portanto, que as escolas incentivem sentimentos patrióticos através da valorização de nossa história e do que temos de melhor, como a abundância cultural e ambiental, e desmistifiquem preconceitos consagrados. Ademais, a ética deve passar a ser disciplina mais valorizada e ocupar metade da grade curricular de filosofia, fomentando debates a cerca dos principais assuntos em voga na mídia. Com tais medidas, poderemos iniciar uma cultura de valorização do coletivo, educando futuros cidadãos mais conscientes e orgulhosos de si.