Enviada em: 08/10/2018

No clipe da música This is America, do rapper Childish Gambino, logo após o assassinato de um homem, uma criança surge com um pano de seda, para, cuidadosamente, armazenar a arma. Embora se trate de uma crítica à defesa do armamentismo nos EUA, tal parecer pode ser aplicado ao Brasil, onde se fortalece o discurso da revogação do Estatuto do Desarmamento. Nesse contexto, deve-se analisar como a crise de segurança pública, além do lobby da indústria armamentista, influencia na problemática.      De início, convém ressaltar que a crise de segurança pública é responsável pelas intempéries que cercam o desarmamentismo. Isso ocorre porque uma miríade de indivíduos entende que o Estado tem descumprido os seus termos no contrato social, a exemplo do artigo quinto da Constituição Cidadã, que prevê o direito à segurança. Destarte, consideram inválido o monopólio estatal do uso da força, reivindicando a responsabilidade de garantir suas integridades. Entretanto, a dinâmica da violência urbana parece não ser levada em consideração, uma vez que não só o porte de arma é inutilizado pelo efeito surpresa de um assalto, como, segundo uma pesquisa conduzida pela UFMG, caso o criminoso suspeite que a vítima está armada, as chances de ela ser agredida aumentam em 83%.      Atrelado à crise da segurança pública, o lobby da indústria bélica também é responsável pela defesa do armamentismo. Tal fato se explica por aquilo que Robert Michels, sociólogo alemão, chamou de lei de ferro da oligarquia, isto é, a democracia representativa produz uma elite que legisla em causa própria. A existência da chamada Bancada da Bala pode ser tomada como exemplo, visto que é composta por deputados e senadores que tiveram suas campanhas financiadas por fabricantes de armamentos. Assim, incorre-se em uma parcialidade, por parte desses parlamentares, no que concerne às tentativas de revogação do Estatuto do Desarmamento, haja vista que atendem não ao apelo da população, mas sim a um sistema complexo de troca de favores.     Percebe-se, portanto, que a defesa do armamentismo tem raízes sociais e políticas. Por conseguinte, cabe à escola, enquanto instituição de grande poder transformador, promover a elucidação das reais consequências advindas de uma possível revogação do Estatuto do Desarmamento, mediante palestras e cartilhas feitas por eminentes na área, a exemplo do Instituto Sou da Paz. Com essa ação, objetiva-se reiterar a proibição do livre porte de armas no Brasil, apoiando-se na conquista de adeptos do desarmamentismo. Outrossim, cabe ao Supremo Tribunal Federal, por intermédio da publicação de uma súmula vinculante, limite o patrocínio privado a campanhas eleitorais a um salário mínimo, assim como já é feito na Finlândia, com o fito de mitigar os conchavos firmados pelos parlamentares. campanha