Enviada em: 24/07/2018

“Em mim, o poeta é a tuberculose. Eu sou Manuel Bandeira, o Poeta Tísico”, são palavras do célebre autor modernista brasileiro, que teve a referida doença como inspiração para várias de suas obras. No entanto, a tuberculose não foi exclusiva da geração de 1932, mas afetou também diversos escritores românticos, como Álvares de Azevedo e Castro Alves, sendo, por isso, considerada "a doença dos poetas”. Contudo, apesar de ter sido controlada no século XX, a enfermidade é mais uma entre as mazelas que estão reemergindo no contexto atual, seja pela pouca informação quanto aos métodos de prevenção, seja pelas condições precárias às quais a população está exposta.        Nesse viés, em 1904, aconteceu na cidade do Rio de Janeiro a chamada Revolta da Vacina, motivada pelo desconhecimento popular acerca do novo recurso. Entretanto, apesar de ter ocorrido há mais de um século, o cenário observado hodiernamente não apresenta diferenças consideráveis, visto que a falta de conhecimento e a disseminação de falsas informações sobre o funcionamento das vacinas e de seus efeitos colaterais colaboram para a tendência de queda no índice de imunização. Prova disso é que, segundo dados do Programa Nacional de Imunização, a taxa de vacinação no ano de 2017 foi a mais baixa desde 2001, fator que contribui para o ressurgimento de doenças anteriormente controladas, como a tuberculose e a dengue.        Em segunda instância, se por um lado a deficiência no ramo da vacinação corrobora para a ocorrência de surtos, por outro, a falta de políticas básicas de higiene e saúde favorecem o reaparecimento de males tidos como erradicados. Nesse âmbito, insere-se a poliomielite, doença viral cuja transmissão ocorre por meio da ingestão de material contaminado que, após afetar importantes figuras como Franklin Roosevelt e Frida Kahlo, foi suprimida nas Américas, em 1994. Todavia, no ano de 2018, o Ministério da Saúde divulgou 312 municípios brasileiros com alto risco de reincidência do problema, ocasionado, principalmente, pela falta de saneamento básico nas regiões de perigo.        Urge, portanto, a adoção de medidas que solucionem o impasse. Desse modo, convém que o Ministério da Saúde crie fóruns virtuais que promovam a integração entre a sociedade e profissionais da saúde, com o fito de possibilitar o diálogo e sanar as dúvidas dos brasileiros no que diz respeito à profilaxia e aos efeitos colaterais de medicamentos, a fim de reduzir a circulação de falsas informações e aumentar a adesão popular às práticas de imunização. Outrossim, cabe ao Governo garantir o acesso nacional à água tratada, por meio do saneamento básico, com o intuito de reduzir os casos de contágio por doenças de transmissão oral-fecal. Quem sabe, assim, as mazelas estejam presentes apenas nos grandes poemas brasileiros e o reaparecimento de doenças não se torne o novo “mal do século”.