Enviada em: 03/10/2018

“No meio do caminho tinha uma pedra”. O trecho tirado do poema “No Meio do Caminho” de Carlos Drummond de Andrade, obra do modernismo brasileiro, usa de metáforas para aludir aos obstáculos enfrentados pelo eu lírico em sua trajetória. Hodiernamente, a situação exposta na poesia assemelha-se às dificuldades enfrentadas cotidianamente pelos cidadãos brasileiros, os quais buscam maneiras de alcançar uma alimentação saudável e livre de substâncias químicas. Nesse contexto, não há dúvidas de que o uso indiscriminado de defensivos agrícolas é um desafio no Brasil, o qual ocorre devido não só ao desserviço governamental, mas também à falta de informações oferecidas à população.     A princípio, a Constituição Federal de 1988 garante alimentação adequada como inerente aos indivíduos. Todavia, esse direito tem sido deturpado, uma vez que 36% dos alimentos comuns na mesa do brasileiro possuem insumos proibidos ou acima do limite, como indica estudo realizado pelo Greenpeace. Dessa maneira, consoante a Rousseau, em “O Contrato Social”, o governante deve tomar decisões priorizando a busca pelo bem-estar coletivo. À vista disso, verifica-se a relevância desse conceito, à medida que ações inspecionais para minimizar e controlar a prática não estão presentes em todo território nacional, causando sérios riscos à saúde da população.      Outrossim, a falta de informes oferecidos a população ainda é um grande impasse à atenuação da questão. Destarte, a existência de obstáculos é reflexo da indústria capitalista, que omite dados almejando sempre maior lucro. Nessa perspectiva, segundo o filósofo e ativista político Chomsky, a ocultação de fatos é uma das principais formas de manipulação midiática - dado que os alimentos não contêm informações tangentes aos fitossanitários utilizados em sua cultivação. Assim, uma mudança nos instrumentos de disseminação é essencial para a atenuação da problemática.     Portanto, indubitavelmente, medidas são necessárias para a solidificação de uma alimentação saudável e livre de agroquímicos prejudiciais à saúde. Primeiramente, o Ministério da Agricultura deve promover uma ação intensiva de inspeções em plantações, realizando cadastro em um banco de dados, repetindo anualmente o processo e multando os que descumprirem, com o intuito de construir uma sociedade detentora do bem-estar proposto por Rousseau. Concomitantemente, cabe ao Poder Legislativo criar um projeto de lei que imponha as informações dos defensivos agrícolas empregados em seu cultivo na embalagem dos alimentos, e em conjunto com a Mídia desenvolva campanhas publicitárias, as quais exponham a importância da informação tangente ao uso de agrotóxicos, em redes sociais e comerciais televisivos, visando inalienação do indivíduo.