Enviada em: 09/08/2018

Valores modernos: tão fluídos quanto o sangue        Com os acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, em 1939, a doação de sangue e a transfusão tornaram-se recorrentes e imprescindíveis para salvar vidas de civis e soldados feridos. Dessa forma, seu caráter era, primordialmente, benevolente. Em contrapartida, no Brasil, em 1940, com a inauguração dos bancos de sangue privados, estabeleceu-se entre a doação de sangue e o dinheiro uma relação mútua de interesses, de maneira que os doadores fossem motivados, essencialmente, pela remuneração oferecida. Nesse sentido, é inegável a origem social e cultural dos obstáculos em torno da questão, fazendo com que seja de responsabilidade da escola e do estado suas transposições.        Parafraseando o sociólogo Zygmunt Bauman, a liquidez sublime das relações humanas modernas tornam as pessoas apáticas e livres de altruísmo. Tomando como norte a máxima do autor, monta-se na sociedade um panorama no qual a falta de solidariedade e conhecimento unem-se contribuindo para as estatísticas alarmantes, como demonstram os dados apresentados pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde), em que de dez doações realizadas, apenas seis são voluntárias, enquanto as demais são para reposição de familiares. Assim sendo, é indubitável a forte base moral que sustenta o problema, a qual sufoca a cultura de doação.       Além disso, a legislação brasileira, apoiada sobre estigmas sociais, posiciona-se de forma intransigente, favorecendo a manutenção de obstáculos. Em virtude da falsa relação entre homossexualidade, promiscuidade e, consequentemente, disseminação de aids, há restrição aos homens homossexuais quanto ao direito de doar sangue, pelo medo de contaminação. Apesar da dissolução dessa relação, na década de 80, materializa-se na contemporaneidade e, tendo em vista que, nem todos os homossexuais são portadores do vírus e, que de acordo com dados levantados pela OMS, sessenta por cento das doações realizadas no país são feitas por homens, debilita, mais uma vez, o abastecimento de sangue.        Portanto, medidas se fazem necessárias. Ao Ministério da Educação, cabe desenvolver um projeto sociocultural para ser aplicado nas escolas, que através de palestras - com profissionais da saúde -  desmitifique e incentive a doação voluntária desde a infância. Às ONG's de apoio à comunidade LGBT, cabem medidas como protestos e veiculação de material digital através das redes sociais - a fim de atingir a sociedade - que pressionem o Estado a repensar a legislação e aprimorar os padrões de testes. Dessa forma, poder-se-á construir, futuramente, uma cultura que sufoque a do século passado.