Enviada em: 13/08/2018

A doação de sangue encontra, no Brasil, uma série de empecilhos. Essa tese pode ser comprovada segundo dados do Ministério da Saúde, os quais apontam que o número de doadores no Brasil é abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde. Nesse contexto, deve-se analisar como a herança cultural e as normas e proibições influenciam na problemática em questão.        A herança cultural brasileira é a principal responsável pelo escasso número de doadores de sangue no país. Isso decorre do fato de que o Brasil, até a década de 1980, remunerava doadores, prática que levou a maioria da população a não se importar e tampouco se envolver com a necessidade da realização de doações sanguíneas. Dessa forma, análogo à teoria da modernidade líquida de Zygmunt Bauman, há a ascensão do individualismo e da efemeridade das relações humanas. Como consequência da potencialização desse individualismo, a mobilização de mais pessoas a doarem é dificultada.        Ademais, nota-se que as normas e proibições também são um entrave para o aumento do número de doadores no país. Isso decorre de vetos a diversos grupos na doação de plasma, dentre eles o impedimento a homens que se relacionaram sexualmente com outros homens em um período de doze meses. Tal proibição é considerada inconstitucional, já que entra em conflito com o Artigo 5º da Constituição, o qual diz que todos os indivíduos são iguais perante a lei. Por conseguinte, verifica-se o teor discriminatório da restrição de homossexuais a doar sangue visto que a orientação sexual é claramente utilizada como critério para classificar os indivíduos.       Torna-se evidente, portanto, que a questão da doação de sangue no Brasil precisa ser revisada. Em razão disso, é necessária a atuação do Ministério da Educação, em parceria com agentes de saúde, com a implementação da educação acerca da doação sanguínea na grade curricular dos ensinos infantil, fundamental e médio por meio de visitas periódicas de tais agentes às escolas para evitar a continuidade do exacerbado individualismo enraizado na sociedade pós-moderna. Além disso, o Ministério da Saúde deve reavaliar as restrições de grupos homossexuais, por meio da reformulação dos critérios para a doação e, ainda, a fiscalização dos hemocentros a fim de evitar a discriminação com esses indivíduos. Para que, assim, os números de doadores aumentem gradativamente e alcance o número recomendado pela OMS.