Enviada em: 02/09/2018

Nas últimas décadas, o avanço da medicina fez com que a prática de transfusão sanguínea se tornasse comum em todo o mundo e, como resultado, pessoas enfermas ganharam esperança com esse processo. No Brasil, entretanto, apenas parte desses indivíduos terá a chance de continuar a viver porque o déficit de doadores ainda é muito grande. Nessa perspectiva, cabe analisar a falta de esclarecimentos e o senso individualista como principais desafios para a doação de sangue no país.      A princípio, é importante pontuar que a escassez de informações é responsável pelo reduzido número de doações. No que se refere a esse fato, a chefe de atendimento do hemocentro do Rio de Janeiro, Naura Faria, esclareceu que muitas inverdades ainda permeiam a doação de sangue no Brasil. Nesse contexto, tem-se que um percentual significativo de indivíduos acredita, por exemplo, que pode contrair alguma patologia durante o processo ou que, doando uma vez, necessitará doar sempre. Com efeito, essas crenças errôneas fazem com que as pessoas não se sintam motivadas a contribuir com esse grande gesto de compaixão e impedem que os bancos de coleta mantenham uma quantidade de sangue adequada.      Ademais, é fundamental destacar que o exacerbado senso individualista é um fator determinante para o déficit de doadores de sangue. A esse respeito, o sociólogo Zygmunt Bauman afirmou, em sua obra “Amor Líquido”, que a fragilidade das relações interpessoais é um dos principais problemas da pós-modernidade. Nesse sentido, esse distúrbio torna as relações sociais menos concretas e impede que um indivíduo se preocupe e se sensibilize, por exemplo, com o bem-estar do seu semelhante. Dessa forma, a falta de solidariedade e de empatia, resultado dessa lógica individualista, faz com que menos de 2% da sociedade brasileira doe sangue regularmente, conforme dados do Ministério da Saúde.     Torna-se evidente, portanto, que o baixo número de doadores, em contraste com os altos índices de procura, impede que muitos indivíduos enfermos ganhem uma nova oportunidade para viver mais e com qualidade de vida. Dessa maneira, cabe ao Ministério da Educação incorporar, nas escolas e universidades, debates e aulas interdisciplinares sobre ética e cidadania para que seja disseminado o hábito da empatia e, consequentemente, a lógica individualista possa ser desconstruída. Outrossim, faz-se necessário que os órgãos midiáticos, em parceria com o Ministério da Saúde, trabalhem na divulgação de campanhas informativas que, além de ressaltarem a importância da doação de sangue, esclareçam à população como, de fato, é o processo de transfusão, a fim de desmentir quaisquer mitos acerca dessa questão. Assim, será possível inverter essa realidade de suspensão de vidas.