Enviada em: 15/09/2017

“A vida é um eterno ir e vir”, proferiu o filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso. Todavia, o Brasil contemporâneo tem sua fluidez dificultada pelas mazelas na mobilidade urbana, principalmente em razão das adversidades no transporte público de baixo impacto ambiental. Portanto, o “ir e vir” em conduções coletivas deve ser alvo de intervenção, já que é uma solução para a mobilidade que hodiernamente está cultural e estruturalmente defasada.         Em primeira análise, o transporte de baixo impacto ambiental no Brasil possui uma estrutura precária e, no caso de ônibus e metrô, preços incompatíveis com a renda da população, fatos que colocam esse tipo de deslocamento como símbolo de decadência. Nesse sentido, além da falta de ciclovias, as tarifas dos coletivos aumentam além da inflação, mas não vêm acompanhadas de melhoras, dadas as escassas opções de horários e veículos danificados pela falta de manutenção. Um exemplo disso foi, em 2013, a Revolta dos 20 Centavos, que não apenas era contra o aumento de preço, mas também reivindicava uma maior valorização dos usuários de transporte público, que sofrem cotidianamente com sua degradação. Dessarte, é perceptível que os meios de transporte sustentáveis devem ser alvo de ações quanto a sua estrutura e custo-benefício, incentivando seu uso.        Outrossim, é indubitável que os desafios do transporte sustentável estão intrinsecamente relacionados a uma questão cultural, já que, os automóveis prevaleceram sobre os outros meios a partir de uma manipulação ideológica. Isso porque, conforme o sociólogo Adorno, a sociedade vive sob os comandos da Indústria Cultural, ou seja, criam-se novos hábitos culturais baseados no desejo de lucro. Nessa perspectiva, os carros e motos, que causa engarrafamento e poluição, adquiriram um valor além de sua funcionalidade e passaram a fazer parte de um status social, fazendo da sustentabilidade um símbolo de miséria desincentivador. Assim, ações midiáticas devem ser tomadas, para que haja a superação de tal cultura insustentável advinda de interesses econômicos paralelos.         Para que tais mudanças sejam efetivadas, o Ministério dos Transportes deve criar vias exclusivas para ônibus, a partir do estudo de pontos de maior engarrafamento, de modo que a agilidade dessa locomoção seja um atrativo para a população cada vez mais apressada. Ademais, as instituições privadas locais devem financiar a construção de ciclovias nos centros urbanos, em prol de incentivar, por meio de maior segurança e comodidade oferecida por essas, a utilização de bicicletas como meio de transporte. Por último, é dever dos grandes canais exibir propagandas que mostrem atores famosos utilizando o transporte coletivo ou bicicleta, a fim de criar uma cultura que valoriza e acredita no potencial desse tipo de transporte.